A CONTINUIDADE DA VIDA

O que acontece com a alma depois da morte física? Pesquisando vários escritos milenares e conversando com diversos santos na Índia, o indiano Sanjay Dewan, discípulo do grande mestre Swami Saroopaniznd ji Mahaharuj, busca lançar um pouco de luz sobe essa pergunta tão contundente.

- Sanjay Dewan


A vida é um fluxo eterno. Cada um de nós tem vivido desde tempos imemoriais e continuará existindo por milhões de anos. A ignorância desse fato nos faz crer que a vida começa no ventre materno, durante a gravidez, e termina quando cessam as funções cardíacas e cerebrais. Esta é, sem dúvida, uma visão mióptica, um conceito inverídico. A moderna ciência médica busca nos fazer acreditar que a alma não possui existência independente, que o corpo representa a totalidade da entidade viva e que o ser perde-se por inteiro na morte do corpo. Nada poderia estar mais longe da verdade!

Atualmente, é possível dizer que as ciências físicas encontram-se em sua mais tenra infância. Tome-se, como exemplo, a velocidade da eletricidade; hoje, existem mais de trinta teorias contradizendo abertamente conceitos que antigamente eram dados como corretos. Sem dúvida nenhuma, o Homem aprendeu a fazer uso excepcional das correntes elétricas, mas continua incerto sobre a maneira como elas se propagam.
Enquanto grande parte dos cientistas enxerga o corpo como sendo a existência total de uma criatura viva, um pesquisador do espírito é capaz de apresentar evidências de atividades metafísicas provenientes daqueles que já deixaram a forma física, desafiando explicações dadas pela ciência material. Como exemplo, podemos citar relatos de crianças bastante pequenas, que identificaram lugares distantes e pessoas estranhas como sendo elementos familiares, conhecidos em vidas passadas - relatos estes comprovados após criteriosa investigação apontando, de forma bastante incisiva, que as criaturas passam por vários ciclos de vida e morte. Não apenas isso, o extraordinário talento de certas crianças serve como forte indicativo de que seu conhecimento ou habilidade foi adquirido em uma existência anterior e reavivado na presente.
A alma (não a mente, que muitas vezes é entendida como alma pelos ocidentais) e o corpo não são a mesma entidade. Assim como uma pessoa deve trocar de roupas de acordo com os requisitos de uma ocasião, da mesma forma a alma muda de corpos. Como não é possível usar a mesma roupa durante uma vida inteira, também a alma, em sua infinita continuidade no tempo, não pode habitar o mesmo corpo para sempre. É por esse motivo que, vez após outra, ela busca uma nova forma física para habitar.

Desprendimento e Aparições

As almas de pessoas humildes, modestas, e daquelas que possuem maior disposição religiosa, costumam cortar seu elo com a vida material logo após a cremação do corpo, e facilmente se reconciliam ao novo ambiente imaterial. Desprendendo-se do passado, elas facilmente adormecem para se recuperar. A natureza não especifica um período fixo para esse descanso, pois tudo depende da saúde espiritual da alma. Assim como crianças e trabalhadores necessitam de mais sono e descanso, a alma também carece de diferentes períodos para recuperar sua saúde espiritual.

Em geral, dois ou três anos de repouso são suficientes. Durante o primeiro ano, a alma dorme profundamente para se recobrar da exaustão que a existência material lhe impôs, e começa a reagir de maneira eficiente à necessidade de novos níveis de consciência próprios de seu corpo astral. No segundo ano, ela costuma recordar-se das ações errôneas (pecados) realizadas em sua existência física e se prepara para trabalhar no novo mundo à luz de experiências passadas. O terceiro ano costuma ser usado na procura do ambiente mais adequado para seu retorno ao mundo em um novo corpo.

Geralmente, aqueles que não desencarnam de forma natural, deixam o corpo como fantasmas e são incapazes de adormecer devido a seu estado de perturbação emocional.

É claro que os anos de adaptação podem variar. Em alguns casos, uma alma pode renascer antes de seis meses após seu desencarne, enquanto que em outros isso pode demorar mais de cinco anos. No evento de uma morte súbita e associada à dor, algumas partículas do corpo físico (sthul sharir) fixam-se no corpo astral (sukshma sharir) e, como conseqüência, a forma etérea retém as mesmas características da material. Desta forma, ela passa a conterem si componentes físicos e astrais. Tais almas podem, em determinadas ocasiões, tornarem-se visíveis aos vivos - quando são chamadas de fantasmas ou aparições. Mas isso dificilmente acontece com alguém que teve morte natural; para se tornarem visíveis, estes espíritos precisariam realizar um esforço enorme e fazer certos exercícios específicos para conseguir tal feito.

Geralmente, aqueles que não desencarnam de forma natural, deixam o corpo como fantasmas e são incapazes de adormecer devido a seu estado de perturbação emocional.

Muitas vezes, buscando vingar-se de alguém ou realizar desejos insaciados por intermédio de uma pessoa encarnada, eles vagam por florestas, cavernas, ruínas ou reservatórios de água e manifestam-se a determinadas pessoas em momentos oportunos. Os exorcistas (tantrik) podem controlar tais espíritos, usando magia para os transformar em escravos. Esses espíritos, entretanto, não trabalham gratuitamente; eles vivem com profundo ressentimento e podem matar seus captores na primeira oportunidade.

A Morada dos Desencarnados

Ao sair do corpo, a alma se vê em um estranho ambiente. Assim como nós buscamos uma cama confortável após um longo período de trabalho, a alma necessita de um período de inatividade para relaxar após sua existência dentro de uma forma física. Por isso ela adormece, e esse descanso ajuda na recuperação de suas forças. Entretanto, a alma não costuma adormecer imediatamente; em geral isso acontece depois de um mês, pois seus hábitos, lembranças da vida anterior e apego ao corpo que se foi (vasna) vão se enfraquecendo gradualmente. Como analogia, pense no estado em que uma pessoa fica após trabalhar muito: seu sangue circula rápido, e a agitação dificulta seu sono imediato.

Depois de separar-se da forma física (shtul sharir), a alma assume seu corpo astral e se vê surpresa ao per ceber que consegue flutuar. Ela pode se mover livremente pelo espaço como um pássaro e chegar a qual quer lugar usando seu pensamento e vontade. Ao deixar o corpo material, o falecido paira sobre seus restos mortais, observando familiares e conhecidos, e tenta comunicar-se ou reentrar no corpo - mas não consegue.

O seguinte relato de um espírito ilustra bem essa situação: "Assim que morri, eu me encontrei em uma estranha situação. Procurei me comunicar com familiares, mas era inútil. Eu podia ver e ouvir a todos, mas estava invisível para as pessoas. Isso me incomodava bastante, mas ao mesmo tempo eu me senti feliz em minha nova forma, tão leve que era capaz de voar com grande velocidade. Lembrei-me de que tinha medo da morte enquanto estava vivo e percebi que aquele medo era totalmente infundado. Tendo adquirido um outro corpo, perdi o interesse pelo anterior, já que o novo era muitíssimo superior. Isso me mostrou que não há nada para se temer na morte; ela é apenas um processo natural de troca de corpos".

Quando a alma está muito apegada às coisas físicas, ela costuma permanecer próxima do corpo até este ser cremado. Espíritos menos esclarecidos e aqueles que possuem grande envolvimento com o mundo da matéria chegam a vagar pelos cemitérios e crematórios durante dias - saudosos de sua forma física, eles são constantemente atraídos ao lugar de sepultamento ou cremação e, incapazes de se controlar, ficam sofrendo. Aqueles mais apegados a seus entes queridos preferem ficar perto dessas pessoas, mesmo sem conseguir se comunicar. Os mais idosos costumam estar menos apegados ao mundo, e suas almas se encontram mais relaxadas durante o passamento, o que favorece um sono quase que imediato.

0 Momento da Morte

Como uma pessoa morre? Neste contexto, yogues indianos, também chamados de santos, tendo desenvolvido percepção paranormal, costumam dizer que, durante um curto período antes de deixar o corpo físico, a pessoa experimenta muita inquietação. As razões desse fenômeno é que a morte exige uma retirada completa das correntes bioenergéticas (prana) de todos os órgãos que, no momento da morte, acumulam-se na parte do corpo por onde a alma irá sair. Às vezes, isso cria certa agonia e até espasmos durante a transição. Contudo, logo em seguida a pessoa entra numa espécie de coma e costuma partir nesse estado de insensibilidade.

Quando a morte torna-se iminente, todas as percepções externas do homem interiorizam-se e escapam cumulativamente, junto com a alma, através de uma das aberturas do corpo (shtul sharir). Alguns yogues do Ocidente entendem que a alma (sukshma e karan sharir) sai do corpo como uma sombra violeta, enquanto os espiritualistas da índia a vêem como uma aura branca e luminosa.

Devido à retirada cumulativa, todas as lembranças da vida material são estimuladas e revividas. Esse fenômeno prova que a mente humana tem capacidades fenomenais - a pessoa volta a sentir e viver suas experiências rapidamente, como se fosse um filme. No mundo físico, cada atividade mental, verbal ou física provoca uma impressão na alma. A soma e substância desses eventos acompanham a alma como samskaras (impressões), e muitas vezes ela se sente triste e arrependida por não ter utilizado todos os preciosos momentos da vida de maneira mais frutífera.

Como já mencionamos, o corpo se torna insensível à dor antes da morte propriamente dita, pois a percepção da mente está introvertida. Assim, a ligação entre corpo e alma se enfraquece e o fruto cai ao chão, já maduro demais para sustentar seu peso. A alma pode sair pela boca, olhos, ouvidos ou narinas. Os grandes "pecadores" costumam deixar o corpo através do ânus e órgãos sexuais. A alma dos yogues geralmente abandona a forma física de modo consciente, saindo através do centro chamado brahmarandhra, localizado no topo da cabeça - esse momento sublime é chamado de maha samadhi, ou a suprema união com o Criador.



Revista Sexto Sentido
Número 32
Páginas 36-39

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