OS CELTAS E AS BRUXAS - por Karenina Azevedo

(Extratos da Palestra Realizada Para o Grupo de Estudos e Assistência Espiritual do IPPB, em 19 de julho de 2003)

- Por Karenina Azevedo -

- Seleção dos extratos e comentários de Íris Poffo (participante do grupo de estudos e colunista da revista on line do site do IPPB):

“Nesta noite, o Prof. Wagner Borges convidou sua amiga "Nina", que mora em Salvador, Bahia, para fazer uma alegre e interessante apresentação sobre a cultura do povo celta e as origens da Bruxaria.

Inicialmente, Nina procurou desmistificar a figura típica da bruxa das estórias infantis, vestida de preto, com chapéu pontudo, verruga no nariz e montada em uma vassoura. As bruxas de hoje são pessoas tão normais quanto o restante das pessoas que se interessam por temas espiritualistas e pela manipulação de energias. A palavra "bruxa" vem da língua falada pelos celtas (1), em tempos antigos, bem antes de Cristo, e significa "aquela que cuida", referindo-se às mulheres que sabiam cuidar das crianças e também sabiam curar, utilizando-se de ervas da natureza para fazer chás, xaropes, caldos, ungüentos e outros tipos de medicamentos.

Como forma de compartilhar essas informações com quem não esteve presente na reunião, transcrevi alguns dos tópicos abordados pela Nina durante sua palestra. Apenas selecionei e resumi os seus ensinamentos de forma didática para leitura.

Estão disponibilizados logo abaixo.

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COMPORTAMENTO EM GRUPO:

- Os celtas viviam em uma sociedade harmônica, que não era nem matriarcal, nem patriarcal, ou seja, as tarefas e as responsabilidades na aldeia eram realizadas de forma complementar - dentro do que seriam os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade (observação pessoal).
- Os homens utilizavam sua energia masculina relacionada com a razão e a força física, basicamente, para fazer ferramentas, caçar e defender a aldeia, enquanto que as mulheres empregavam a energia feminina da intuição na manipulação dos alimentos e medicamentos, como também na arte de curar.
- O homem era representado pelo sol, pelo dia, o claro e a capacidade de prover; e a mulher pela lua, a noite, que acolhe, acomoda e acalanta.
- Não havia a imagem rígida do "certo" ou "errado", mas posturas diferentes de vida, sabendo que cada um é responsável pelos seus atos, que tudo tem "os dois lados da moeda" e que o próximo devia ser respeitado.
- Os casais se uniam de acordo com sua livre escolha, sem dogmas ou obrigações e da mesma forma se separavam quando desejassem.
- Não havia o conceito de "posse" ou de domínio, nem de dualidade entre casais, mas sim o conceito de complemento.
- As mulheres eram muito respeitadas porque "sangravam" todo mês e não morriam, enquanto que o mesmo não acontecia com os homens, que voltavam feridos do campo de batalha. Também porque elas eram capazes de dar cria a seres pequenos.
- O Deus-chifrudo era a representação de um grande caçador, que havia caçado o maior e mais forte alce e usava a galha (chifre) deste animal como exibição de força e poder.
- Batizavam suas crianças com rituais de entrega do ser pequenino aos deuses para pedir proteção e ofertar a esta criança as características do deus/deusa escolhido(a).
- Casavam-se celebrando a junção de duas almas que se escolheram para compartilhar os sentimentos que nutrem uma pela outra.
- A dor era respeitosamente chamada de "Mãe-Dor", sendo compreendida como uma forma de ajudar a pessoa a crescer.
 
 
RELAÇÃO COM A MÃE NATUREZA:

- Os celtas viviam próximos à floresta, eram caçadores e agricultores.
- Observavam e estudavam as pedras, as plantas (ervas), as fases da lua, a influência que exerciam em suas vidas e tinham assim um bom relacionamento com a água, com o fogo, com a terra, com os animais e os elementais (espíritos da natureza).
- Realizavam festas, com danças, músicas e rituais, para comemorar fases da lua, estações do ano, boa colheita, chegada das chuvas, entre outras, as quais costumavam durar do poente ao nascente.
- Pão e vinho: eram utilizados nas refeições simbolizando as bênçãos que a terra dá.


INFLUÊNCIA DAS CRUZADAS:

- O movimento das cruzadas trouxe o contato agressivo com as idéias predominantes da Igreja Católica e muitas aldeias foram destruídas, seja em confronto armado, seja pelo choque cultural.
- Para os padres, eles eram considerados um povo pagão e precisavam então ser catequizados. Os adolescentes celtas foram os primeiros a se dobrarem em razão de sua natural curiosidade.
- Ao ter maior contato com os celtas, eles ficaram surpresos diante de tanta cultura e conhecimento.
- Para atrair maior número de pessoas para suas missas, os padres incorporaram datas comemorativas dos celtas em seu calendário, como por exemplo, o Yule, que é celebrado no hemisfério norte no dia 21 de dezembro e representa o nascimento da criança prometida (2). Por isso, a igreja católica "migrou" a data de nascimento de Jesus de 6 de janeiro (dia de Reis) para 25 de dezembro.
- As mulheres sobreviventes, de tanto serem perseguidas, infiltraram-se na floresta em busca de proteção e lá reunidas puderam aperfeiçoar e preservar seus conhecimentos.
- Algumas destas mulheres eram uma ameaça para o alto clero católico, por não aceitarem submeter-se aos conceitos da Igreja, e em função da sua sabedoria popular, da capacidade de cura e de adivinhações, entre outras qualidades, e "poderes psíquicos" que demonstravam e, por isso, foram aprisionadas e condenadas à fogueira.
- Em função desta perseguição, preferiram reunir-se secretamente e preservar seus conhecimentos utilizando-se de símbolos.


SOBRE A FILOSOFIA DE VIDA DAS BRUXAS:

- A ligação com a energia feminina da "Mãe Natureza" é muito forte.
- Consideram que a Bruxaria é um tipo de religião de auto-percepção.
- Buscam o melhor conhecimento do seu corpo e do seu humor, estudando a relação existente com o ciclo menstrual, com as fases da lua, com o período do ano e também como isso pode interferir no relacionamento com as outras pessoas e com seu companheiro.
- Tinham dois livros: um de capa preta, onde eram registrados os preparos das receitas e das poções, bem como os trabalhos realizados, e outro, que seria um diário pessoal.
- Não há o conceito "padrão de culpa ou/e pecado", mas sim o de responsabilidade individual pelos seus atos e pelos seus pensamentos e o respeito pelo próximo.
- Cultuam três deusas principais: a jovem (aquela que não pariu), representada pela lua crescente; a mãe (aquela que já pariu) representada pela lua cheia; e a anciã (aquela cujos filhos/filhas já entraram para o ciclo de renascimento, ou seja, já geraram outros seres), representada pela lua minguante.
- Trabalham com várias deusas, deuses e arquétipos, de acordo com o objetivo do trabalho; por exemplo, se precisavam de ajuda na caçada, invocavam os poderes de Diana.
- Família cósmica: entre elas há o tratamento carinhoso de mães, filhas e irmãs. Os conhecimentos adquiridos passam de mãe para filha, seja ela de sangue ou não. Uma mãe biológica pode "parir" uma filha de conhecimento.
- Cromoterapia (3): estudam e aplicam cromoterapia, inclusive nas roupas.
- Vestimentas: utilizam trajes de todas as cores, desde que com o conhecimento das repercussões energéticas das mesmas em seu campo vibratório e em cada ritual especificamente. As iniciadas usam apenas branco. Pajens usam preto e marrom (pela força telúrica) e sacerdotisas usam todas as cores, a depender da necessidade energética e possibilidade (também energética) nos rituais.
- Mágica: manipulação das energias densas e sutis de acordo com a vontade, interesses pessoais e ética, acima de tudo. Por exemplo, se alguém pede uma poção para uma conquista amorosa, usam-se frutas e folhas vermelhas para fazer um chá juntamente com emanação de energias e formas-pensamentos voltadas para o objetivo desejado. A pessoa que toma está desejando intensamente que sua vontade seja realizada, somatizando em si mesma algo "magicamente" sedutor, o que ajuda ainda mais a materializar as suas intenções; mas é MUITO importante ressaltar que qualquer forma de magia é usada para si mesmo (para ficar mais sensual ou sedutora, por exemplo), jamais para o outro.
- Caldeirão: ficava aceso dia e noite para cozinhar, fazer doces, sopas, poções e também para aquecer as casas por causa do frio. Hoje em dia já não é mais usado a qualquer dia nem a qualquer hora, mas em rituais e momentos específicos, e sempre conduzido por uma pessoa (no caso, uma sacerdotisa) que conheça os "mecanismos energéticos" desse uso. Um caldeirão não deve JAMAIS ser usado por homens, uma vez que representa o útero.
- Gato: os gatos são comumente associados às bruxas. São animais domésticos, mas ao mesmo tempo livres e independentes, sem sentimentos de posse tanto para o dono como para os bichanos, o que já não acontece com os cães.
- Sapo: símbolo de agilidade. São animais que vivem em brejos, locais de áreas úmidas e lamacentas, com muita destreza. No tempo dos celtas, era comum a realização de lutas no meio da lama, entre dois rivais, para "acertar a contas", pois as condições eram neutras e difíceis para ambos.
- Olhos de lagartixas, asas de morcego e de borboleta, pele de cobra, e outros: as bruxas não se utilizam de animais em seus trabalhos, somente plantas. Estes podem ser nomes simbólicos usados para ocultar as verdadeiras receitas como também para mistificar a figura delas.
- Vassoura: ainda na cultura celta, a vassoura é a representação da integração harmônica entre a energia masculina (cabo) e a feminina (palha), juntos, unidos, para "limpar a sujeira da terra". Nos rituais que participavam as mulheres, cantando e dançando com as vassouras nas mãos ao anoitecer e madrugada afora em volta da fogueira, os soldados das Cruzadas que as observavam de longe, imaginaram tê-las vistas saindo do chão e saíram contando que voavam. Daí a imaginação popular ampliou a lenda.
- Varinha: as mãos eram usadas para projeção de energias nos trabalhos de limpeza energética e de cura. A varinha seria o prolongamento dos dedos.
- Chapéu pontudo: é a combinação de duas figuras geométricas: o cone (representando a captação de energia superior) e o círculo (representando o "portal" da entrada desta energia ou o chacra coronário);
- Saia: vestimenta que ajuda a manter livre contato com a energia da terra, a qual é de certa forma bloqueada pelas calças nas mulheres, pois o maior canal telúrico feminino é o ventre. Já com os homens, o canal telúrico é mais sensível nas solas dos pés, não havendo, portanto, problemas no uso de calças.
- Rituais: fazem rituais para comemorações, tais como a menina que vira mulher, a mãe que engravida, o nascimento do bebê, o primeiro nascer de sol do bebê, a entrada na menopausa, a passagem definitiva para outro plano (morte), etc.
- Ética e responsabilidade: lembrar que você deve respeito a si próprio e ao que você faz aos outros. Não ficar preso ou preocupado por ter que corresponder às expectativas dos outros e da sociedade.
- Respeito a tudo o que foi conquistado pelos ancestrais: preocupação em combater as vaidades para não desmoralizar o que foi conseguido a "duras custas".


FRASES DE DESTAQUE:

- Você pode ser carcereiro ou libertador de si mesmo, a escolha é sua!
- Devemos estudar para aprender, e não para nos mostrar!
- A verdadeira ligação com as deusas e com os deuses se dá pelo coração, e não pela razão!
- A dor serve para você parar e olhar para si mesmo (a). É um instrumento de chamada, de observação e de ensino.
- Devemos respeitar os próprios limites, até que eles deixem de representar limites. E isso não é ir além, mas sim permitir que o tempo flua.
- Estamos todos juntos em um trabalho coletivo de descoberta individual.

- Nota de Wagner Borges: Ana Karenina é sacerdotisa de Bruxaria Tradicional da Casa Telucama de Salvador, Bahia – Site: (http://planeta.terra.com.br/religiao/templocasatelucama/). É Reikiana – níveis 1 e 2. É pedagoga especializada em Administração escolar e Supervisão escolar, e professora de Didática e Psicologia da Educação, Pós-graduada em Psicopedagogia, Psicmotricidade e Sócio-Terapia. Dirige uma clinica com 25 profissionais da área terapêutica e faz palestras e aulas sobre temas espirituais, celtas e de Magia.
- Notas do texto:
1. Os celtas viveram por volta de 1.500 anos a.C., inicialmente, às margens do Rio Danúbio, na Alemanha, e depois se distribuíram pelo norte da Europa (Alemanha, Suíça, Suécia), Reino Unido (Irlanda, Inglaterra e Escócia), e para a Península Ibérica (Portugal e Espanha).
2. Para a mitologia celta, o Deus nasce da deusa, para depois se tornar o seu consorte, num ciclo que representa a eterna regeneração. O Homem nasce, cresce e morre, para depois renascer. A mulher pare, cria e envelhece. Não precisa do ciclo de morte-renascimento, pois guarda em si o poder de auto-regeneração.
3. Cromoterapia: O estudo das cores e suas repercussões psicofísicas.

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