O NOME DA MÃE DA COMPAIXÃO

Caminhando em desespero, o velho homem pensara que não havia outra alternativa a não ser acabar com a própria vida se jogando no rio Chieng. Ele perdera tudo o que tinha e já não havia como alimentar a sua família. Tinha receio de chegar em casa e olhar na face de sua esposa e dizer que perdera todo o dinheiro numa aposta.
Dessa vez tudo parecia diferente e ele tinha certeza que ganharia o jogo e teria dinheiro suficiente para comprar uma carroça e ganhar seu pão carregando pessoas de uma província a outra; mas dera tudo errado e sua última chance se esvaíra numa jogada mal-planejada que levara seu dinheiro e sua honra.
Sem honra e sem esperança, ele se aproximou da beira do lago, pediu perdão
aos deuses e ancestrais e já se preparava para se atirar na água, quando notou que na margem do rio, surgia a face de Kuan Yin*, a Senhora da Compaixão, e ela lhe sorria suavemente. Envergonhado, o homem cobriu o rosto com as mãos, e falou:

- Senhora, tenha piedade de minha alma. Tenho muitas dívidas e depois de um ano sem chuva, toda a colheita se perdeu, não vejo saída se não a morte.

“Filho, a morte nunca é saída para os problemas que precisamos resolver em
vida, disse a Senhora sorrindo. Encerrar a vida antes do tempo certo apenas prolonga para outro ciclo algo que poderia ser resolvido agora. A morte não é uma saída, é apenas uma passagem, e quem antecipa essa viagem acaba voltando ao ponto inicial da sua jornada. Há pessoas que morrem em vida, e outras que se apaixonam pela morte como se ela fosse a resposta de tudo, mas eu lhe digo, a resposta está na vida e quem é campeão da vida acaba achando um caminho quando está perdido, acaba encontrando uma luz quando tudo parece escuro.”

- Mas, como terei forças para voltar pra casa com as mãos vazias?

“Voltando com o coração cheio de vontade de continuar sua luta. Vá, filho
meu. E toda vez que o desespero lhe turvar a visão, repita meu nome em seu peito como se fosse o som do seu coração. E prometo que estarei por lá.”

O velho homem enxugou as lágrimas dos olhos e retornou o seu caminho para casa, ainda trêmulo, ainda com receio, mas sabendo agora o nome da esperança: Kuan Yin.

- Frank -
Londres, 25 de janeiro de 2004.

* Kuan-Yin (do chinês): A Deusa da Compaixão.

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