QUEM MANDA EM QUEM?

(Este texto é sobre os conflitos interiores entre o nosso "eu divino" e o nosso "eu imaturo")

No anoitecer de um dia de verão, estava me dirigindo ao IPPB, feliz da vida por ter sido convidada a dar uma aula para a turma do grupo de estudos e assistência espiritual. Próximo ao acesso da Avenida Ricardo Jafet, o carro que eu dirigia foi acertado em cheio na traseira por um ônibus. Em função do impacto, fui empurrada longe.

Por ser pseudo-terapeuta e metida a ser "boa samaritana" fiz um rápido check up em mim mesma (1) e logo saí do carro para ver se alguém precisava de ajuda. Graças a Deus ninguém se machucou, nem eu nem ninguém no ônibus. Superada a etapa do susto, passamos a etapa da discussão para ver quem tinha a razão, o motorista do ônibus ou eu. Lembrando que eu tinha uma aula a dar e que os amparadores e mestres deveriam estar de olho em mim, resolvi não entrar nesta sintonia e procurei dialogar no sentido da passividade "ambos erramos". Tomei nota dos dados do ônibus e retornei ao carro, "tadinho", estava bem amassado e com o vidro traseiro todo estraçalhado, mas pelo menos continuava funcionando.

Saí do local e entrei na primeira rua em busca de um lugar mais tranqüilo. Estava com as pernas tremendo e naturalmente com embrulho no estômago de nervoso. Parei o carro e comecei a fazer exercícios respiratórios para me harmonizar, focalizando a mente em uma bela paisagem da natureza com bosques e uma linda cachoeira de cores branca e violeta, a fim de transmutar toda tensão nervosa que estava sentindo. O nervoso voltava. Lembrei-me dos ensinamentos que tenho recebido de Jesus, de Krishna e tantos outros queridos mestres, nos incentivando a elevar o pensamento ao Alto, superando as emoções pesadas, e falei para mim mesma o quanto era importante vivenciá-los neste momento.

Começou a dar certo! Lembrei-me dos exercícios que o Prof. Wagner Borges tem nos ensinado e comecei a me centrar no reequilíbrio do chacra umbilical e no Hara (3), juntamente com exercícios de respiração e concentração em mantras (3).

Deu certo! Acho que não levei mais de uns 15 minutos fazendo tudo isso. Acho que o treino de praticar estas e outras técnicas diariamente facilitou todo esse processo. Mais calma agora, liguei para a empresa seguradora e tomei as providências cabíveis. Quase que refeita da ligação segui em direção ao IPPB. Falei silenciosamente sobre o acidente com o Vítor e o Samuel (4) e eles prontamente me ajudaram a proteger o carro, improvisando uma capa para o vidro traseiro com sacos de lixo. Ficou lindo!

Enquanto isso entrei em uma sala para me harmonizar, me concentrar e me elevar em uma prece, desejando que o ocorrido não interferisse no trabalho que faria em instantes. Repeti os exercícios que estava fazendo a pouco no carro. Assim foi. Resolvi não comentar nada sobre o ocorrido com o grupo e fiz o melhor que pude nesta aula sobre Ecologia Consciencial, entregue aos amparadores e mestres, desejando servir como instrumento da paz e do amor à Vida e à Mãe Terra. Explanamos o tema, brincamos e cantamos a música o "Sal da Terra", de Beto Guedes com o coral improvisado do IPPB. O pessoal leva jeito! Afinal, "quem canta seus males espanta!" Antes do encerramento, fizemos projeção de energias para o bem universal e vivenciamos todos um momento bem especial.

Recebi um abraço muito legal de algumas pessoas e, isto me fez muito bem, pois sentia que iria desmontar em breve. Sentei, respirei fundo e desabafei com Vítor e o Samuel que eu não conseguia acreditar que tudo tinha saído bem. Era um misto de alegria e de tristeza. Alegria pelo "eu divino" ter vencido o "eu imaturo" e pelo pessoal ter gostado da aula! Tristeza pela trabalheira que eu teria nos dias seguintes, sem falar que ficaria sem condução para realizar as várias atividades que faço entre as zonas norte, sul e oeste de São Paulo.

Depois em casa, refleti sobre o ocorrido com bom senso e razão. Quando pensamentos inferiores surgiram me impelindo a fazer tempestade em copo d’água junto com o motorista do ônibus; a me sentir uma vítima das fatalidades da vida, do trânsito maluco de São Paulo e dos espíritos obsessores; me induzindo a supervalorizar o carro e a me desesperar com o dinheiro que teria que gastar com a franquia do seguro, entre outras idéias nada edificantes que surgem nestas horas, sabia que tinha uma escolha a fazer: acessar o "eu superior" ou ouvir o "eu inferior". Como semelhante atrai semelhante, busquei ajuda na meditação e comecei a elevar os pensamentos e sentimentos ao Alto, colocando o amor a Deus acima de todas as coisas, inclusive acima do orgulho ferido e do apego aos bens materiais.

Estava me sentindo bem, sem nenhum arranhão ou torcicolo graças ao amparo e proteção dos auxiliares invisíveis. Reconheci o quanto compensou visualizar a proteção divina diariamente. O carro é mais um instrumento de trabalho que recebi nesta vida-tarefa como esse querido corpo físico e logo ele seria reparado. O dinheiro para as dívidas haveria de aparecer com trabalho e dedicação. E apareceu! Com humildade reconheci também que preciso prestar mais atenção ao trânsito e ao meu sexto sentido, também ao dirigir, pois "alguém lá de cima" já havia me chamado a atenção sobre a movimentação daquele bendito ônibus na avenida, momentos antes do acidente.

Concluindo, penso que se eu tivesse permitido deixar o "eu emocional imaturo" falar mais alto do que o "eu divino" dentro de mim, naquela hora depois do acidente, certamente teria desapontado aos mestres e amparadores que têm me passado tão belos ensinamentos e que têm me dado tantas bênçãos e proteção. Sei que ainda estou engatinhando nesta estrada e que muito tenho a aprender, mas é bom saber que agente pode escolher quem manda em quem!


- Íris Regina Poffo -.
 
- Notas:
1. Check up: verifiquei se havia algum tipo de lesão no pescoço, coluna, braços e pernas.
2. Chacra umbilical e Hara. Ambos estão situados na região abdominal, onde se expressam nossas emoções mais instintivas. O Hara é um termo japonês para parte inferior da barriga, e se refere ao centro de gravidade da energia vital do nosso corpo, pouco abaixo do umbigo.
3. Mantras: Lembrei-me de vários deles e fiquei alternando "Om Shanti Om", que ajuda a fixar a paz, e o "Om Mani Padme Hum", que desperta a luz que irradia da jóia do coração.
4. Vítor e Samuel trabalham no IPPB.

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