MUITAS MORADAS...

(Texto publicado no Boletim “Paz e Luz” - Informativo do IPPB – Ano I – 2005 - Número 05 – Página 14.)
- por Maurício Santini –

No prédio onde eu habito tem dois andares.
Um de cima e outro de baixo.
Os moradores do andar de baixo são barulhentos e instintivos.
Adoram uma algazarra e se perdem por uma noite de prazer.
Os de cima são mais silenciosos e equilibrados.
Parecem antenados em algo muito mais sublime. Deve ser porque estão no alto.
Os vizinhos do primeiro andar são emotivos e passionais.
Vira e mexe tem alguém chorando por um amor perdido.
Freqüentemente brigam por ciúmes e outras possessões.
Os do segundo andar são mais amorosos e pacíficos.
Nunca ouvi qualquer gemido de dor, apenas sorrisos afetivos.
São livres. Despertam com a luz do sol.
Às vezes, fazemos uma reunião de condomínio.
Os de baixo brigam apenas por suas causas e lutam para socializar integralmente, sem vigilância, as dependências do prédio.
Os de cima são mais previdentes e optam pela liberdade com responsabilidade.
O terreno baldio ao lado já invadiu seus entulhos nos quintais do prédio embaixo.
Tudo que é lixo dos outros começa a acumular na porta da entrada.
São os vizinhos de cima que limpam a bagunça.
Os habitantes dos andares inferiores comem sem mesura, bebem sem dosagem, transam para satisfazer seus instintos. Muitas vezes são violentos e chutam o balde.
Os moradores de cima se alimentam de luz e sorvem o prana do ar.
Seu sexo é com as estrelas. Fazem amor com o Universo.
Eu vivo entre os dois andares.
Às vezes subo de elevador, às vezes, infelizmente, por falta de energia, desço as escadas...
Outro dia estava pensando em reformar esse meu prédio. Mas, dá um trabalho...
Custa caro. Só a mão de obra e o material de construção saem uma fortuna.
Mas, acho que vale a pena!
Mudar os móveis. Aumentar a segurança contra os invasores e oportunistas.
Instalar antenas mais potentes para pegar os canais de luz.
Limpar a piscina das impurezas. Ensinar boas condutas aos vizinhos de baixo.
Varrer os entulhos e as folhas secas do quintal. Trocar as telhas quebradas.
Pintar as paredes com cores pastéis e alvas e vedar as infiltrações.
Lavar o chão e ladrilhar os buracos do piso.
Turbinar o elevador.
Trocar os vidros foscos das janelas pelos que reluzem a luz do sol.
Enfim, transformar meu prédio antigo num novo templo de luz e harmonia.
Se a casa do meu Pai tem muitas moradas, devo então enfeitar de luzes a minha.
Daí, quando chegar a hora de mudar de constelação, estarei pronto, visto que a minha casa brilha com a luz do dia.
Posso até habitar o sol sem medo de me queimar.
Posso ser turista numa das luas de Júpiter ou mesmo passar uma temporada em Andrômeda.
Se houver qualquer terremoto ou vendaval estou seguro na minha torre de luz.
Assim, eu resolvi reformar minha morada e acho que Deus pode me ajudar a reconstruí-la.
Ele é o Grande Arquiteto Do Universo!

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