TRABALHOS DIVINOS - por Sry Aurobindo

- por Sry Aurobindo -

Em teus trabalhos há sempre estes três: o Mestre, o Trabalhador e o Instrumento. Defini-los corretamente em ti mesmo e corretamente possuí-los é o segredo dos trabalhos e o deleite dos trabalhos.
 
Aprende primeiro a ser o instrumento de Deus e a aceitar teu Mestre. O instrumento é esta coisa externa que tu chamas de tu mesmo; é um molde da mente, uma força de poder que impulsiona, um maquinário de forma, uma coisa cheia de molas e engrenagens e parafusos e dispositivos. Não chames a isto de Trabalhador ou de Mestre; não poderia nunca ser o Trabalhador ou o Mestre. Aceita-te humildemente, contudo com orgulho, devota, submissa e alegremente como o instrumento divino.
Não há maior orgulho e glória do que ser um perfeito instrumento do Mestre.

Aprende primeiro a obedecer completamente. A espada não escolhe onde ferirá, a seta não pergunta para onde será atirada, as molas da máquina não insistem no produto que resultará de seu trabalho. Estas coisas são determinadas pela intenção e pelo trabalho da Natureza e quanto mais o instrumento aprender a sentir e a obedecer a lei pura e essencial de sua natureza, mais cedo o trabalho produzido se tornará perfeito e impecável. Auto-escolha pelo motivo do poder nervoso, revolta do instrumento físico e mental, podem apenas prejudicar o trabalho.

Deixa-te levar pelo alento de Deus e sê como uma folha na tempestade. Coloca-te em Sua mão e sê como a espada que fere e a seta que voa para o alvo. Que tua mente seja como a mola da máquina, tua força como o tiro de um pistão, que teu trabalho seja como a descida do aço que dá forma e esmerilha seu objeto. Que tua fala seja o clangor do martelo na bigorna e o gemido do motor no seu trabalho, e o brado da trombeta que proclama a força de Deus para as regiões. De qualquer modo, faz como um instrumento o trabalho que te é natural e destinado.

A espada tem uma alegria no jogo da batalha, a seta tem uma jovialidade no seu sibilar e no seu arremesso, a Terra tem um arrebatamento no seu redemoinho estonteante através do espaço; o Sol tem um êxtase real de seus esplendores ardentes e de sua moção eterna. Oh tu, instrumento auto-consciente, sente também o deleite de teus próprios trabalhos destinados.

A espada não pediu para ser feita, nem resiste a seu usuário, nem se lamenta quando é quebrada. Há uma alegria em ser feita e uma alegria em ser usada; e uma alegria em ser posta de lado e também uma alegria em ser quebrada. Descobre alegria igual!


(Texto extraído do livro “Sabedoria de Sry Aurobindo – Editora Shakti.)

- Nota de Wagner Borges: Sry Aurobindo (Índia, 1872-1950) foi um dos maiores mestres da Índia. O seu trabalho tornou-se conhecido como “O Yoga Integral”, porque, como ele dizia, “Toda vida é Yoga”. Para mais detalhes sobre os seus escritos inspirados, ver o excelente livro “Sabedoria de Sry Aurobindo” – Editora Shakti.

Texto <703><12/06/2006>

Imprimir