ECOS DO ALÉM

A base da formação da personalidade reside nos genes ou nas experiências da reencarnação?
Três assuntos de grande interesse para os adeptos e estudiosos da doutrina espírita vêm sendo divulgados com certa insistência e até mesmo alarde pelos meios de comunicação nos últimos meses e anos. São eles: os avanços e as novas descobertas no campo da genética; a difusão da chamada terapia de vidas passadas, no âmbito da psicoterapia; na astronomia, a descoberta, até agora, de cerca de 50 planetas orbitando estrelas longe do nosso sistema solar. Mas alguns perguntarão: o que esses assuntos têm a ver com a doutrina espírita? É o que tentaremos estabelecer, ainda que de maneira sucinta e, talvez, muito imperfeita.

As descobertas, no campo da genética, do ácido desoxirribonucléico (DNA) e do ácido ribonucléico (RNA) foram as mais importantes desde que o frade agostiniano e botânico amador Gregor Johann Mendel (1822/1884) descobriu e formulou as três leis fundamentais da hereditariedade. Ter encontrado esses dois ácidos é da maior importância, pois são eles os responsáveis pela transmissão, geração a geração, dos caracteres físicos de todos os seres vivos.

Tal descoberta tem propiciado avanços enormes, possibilitando desvendar todos os segredos da reprodução dos seres vivos, a alteração, em laboratório, dos caracteres dos indivíduos, a clonagem e outras façanhas ainda por vir.

As experiências nesse campo são de tal ordem que muitos, atemorizados, acham que o homem está querendo "brincar de Deus", prevendo a criação, em laboratório, de novas espécies de seres híbridos. Já se aventa a possibilidade da criação de um ser híbrido de homem e macaco, pelo cruzamento de seus genes.

Enfim, as novidades que surgem a cada dia nesse setor do conhecimento humano são, na verdade, maravilhosas, como a possível cura de tantas moléstias transmitidas por hereditariedade, mas também são assustadoras. Basta lembrar que o Vaticano proibiu, nas universidades a ele ligadas, a realização de experiências com embriões de seres humanos.



O GENOMA HUMANO

Recentemente, cientistas anunciaram ao mundo a conclusão do mapeamento (seqüenciamento) do genoma humano (o conjunto ou a totalidade dos genes contidos nos cromossomos de um indivíduo). É o maior feito da biogenética desde os experimentos (cruzamento) com as espécies de ervilhas realizados por Mendel, que resultaram na descoberta das três leis fundamentais que regem os processos hereditários. O mapeamento do genoma humano abre enormes fronteiras de pesquisa para o aprofundamento nos mistérios da hereditariedade e que, num futuro talvez ainda distante, possibilite corrigir os genes defeituosos, produzindo, assim, corpos cada vez mais perfeitos e saudáveis.

Mas o que isso tem a ver com a doutrina espírita? Primeiramente, não devem os espíritas ficar assustados com tais avanços da ciência. Eles são inexoráveis! Em segundo lugar, e isto é o mais importante, nada poderá alterar as relações corpo/espírito. Se um corpo é gerado pelos meios naturais de concepção (acasalamento entre homem e mulher) ou se será "concebido" em uma proveta de laboratório, repetimos, em nada altera a relação corpo/espírito reencarnante.

Aliás, a decantada clonagem sempre existiu na natureza. Pois o que são os gêmeos univitelinos? São dois ou mais seres formados da divisão de um mesmo óvulo, portanto, portadores de idêntica carga genética. No entanto, cada qual é um ser único e indivisível, pois são animados por espíritos distintos. Se a "clonagem" for realizada em laboratório, as regras serão as mesmas. Jesus já ensinou que carne é carne e espírito é espírito.

Alegam muitos que mentes diabólicas poderão lançar mão dessas descobertas para fins menos dignos. A literatura de ficção é farta em casos da espécie. Isso é verdade. Aliás, desde que o homem é homem sempre fez isso! Quando o homem da caverna produziu as primeiras lanças e machados de pedra lascada, de acordo com a "tecnologia" da época, logo descobriu que, além de serem úteis para abaterem animais destinados ao seu sustento, também serviam para matar os indivíduos das tribos rivais. E assim é até os dias de hoje. Praticamente não há invenção que não possa ser utilizada tanto para o bem como para o mal da humanidade.

O problema, obviamente, não está na ciência ou nos cientistas, mas no grau de moralidade (ou imoralidade) das pessoas que lidam com as novas descobertas.



A ALMA

Corpo e alma (espírito) unem-se para compor um indivíduo, o homem. Mas são coisas distintas, sendo que o espírito, que é imortal, é o mais importante. Tanto assim que, na sua senda evolutiva, troca de corpo físico sabe-se lá quantas vezes, enquanto que a matéria se agrega para formar um corpo físico, para logo depois desintegrar-se e voltar a se reintegrar, na dança infinita dos átomos no Universo.

A busca pela saúde perfeita, pela ausência de moléstias físicas e mentais, pela longevidade, a eugenia enfim, é um antigo anseio da humanidade, seguindo o dito de Juvenal, poeta latino: "mens sana in corpore sano". Portanto, se a engenharia genética vem para aprimorar o corpo físico das pessoas, é muito bem vinda, mesmo porque os espíritos mais elevados que já estão reencarnando e que virão a se encarnar na Terra no terceiro milênio necessitam de corpos mais aptos para desempenharem suas elevadas missões de redimir a humanidade.

Mas alguns espíritas dirão que a Terra é um planeta de expiações e de provas, conforme ensina a doutrina, e que as doenças, notadamente as congênitas, e os sofrimentos que elas causam fazem parte do processo cármico de depuração e evolução das criaturas. É verdade. Mas a doutrina também ensina que tudo no Universo evolui, em atenção à lei do progresso, e que a Terra deverá ser promovida a mundo de regeneração. É o que nos ensina a questão 185 de O Livro dos Espíritos: "O estado físico e moral dos seres vivos em cada globo é perpetuamente o mesmo? Não. Os mundos são também submetidos à lei do progresso. Todos começaram como o vosso, num estado inferior; a Terra sofrerá uma transformação semelhante. Será um paraíso terrestre quando os homens se tornarem bons".



ABOLINDO OS SOFRIMENTOS

Ora, num mundo regenerado, habitado por uma humanidade bem mais cristianizada, é claro que os grandes sofrimentos e dores serão gradativamente abolidos. E aí alguém perguntará: mas e os espíritos portadores de pesadas dívidas cármicas, como farão para resgatá-las? A resposta está nos evangelhos e na própria doutrina: "a casa de meu Pai tem muitas moradas". Tais espíritos irão reencarnar em outros mundos, em estágio evolutivo semelhante ao da Terra atualmente ou ainda pior. Vejamos a questão 172 de O Livro dos Espíritos: "Nossas diferentes existências corpóreas se passam todas na Terra? Não, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição". E a questão 174: "É uma necessidade reviver na Terra? Não, mas se não progredirdes, podereis ir para outro mundo que não seja melhor e que pode mesmo ser pior".

Assim é que, de encarnação em encarnação, sem desprezo do tempo em que o espírito permanece no astral (plano espiritual), onde também pode evoluir, vamos plasmando o que o dr. Mauro Kwitko, psiquiatra gaúcho e terapeuta de vidas passadas, denomina de personalidade congênita, o que significa que somos herdeiros de nós mesmos. Os caracteres físicos herdamos de nossos ancestrais, mas o nosso caráter, a nossa personalidade, o nosso verdadeiro eu, vamos forjando de encarnação em encarnação, cada uma com as suas possibilidades de aprendizado. já bem se vê que a finalidade das encarnações é a de melhorar a nossa personalidade, de acordo com as possibilidades que a justiça Divina nos concede.



TERAPIA DE VIDAS PASSADAS

O segundo assunto diz respeito à intensificação, por parte de psicoterapeutas, da prática das chamadas terapias de vidas passadas, dando nascimento à Escola de Psicoterapia Reencarnacionista. Este método de cura consiste em levar o paciente, sob efeito hipnótico, a rememorar acontecimentos, geralmente traumáticos, ocorridos em vidas passadas, mas que persistem nos seus efeitos perturbadores até a presente encarnação. Trata-se, pois, de precioso instrumento de cura de traumas, somente utilizado por especialistas no assunto e quando se faz absolutamente necessário, isto é, quando os procedimentos normais da psiquiatria ou da medicina convencionais não surtiram efeito. Jamais deve ser usado como meio de satisfazer curiosidades que muitos têm sobre suas vidas pregressas.

Essa técnica vem se desenvolvendo rapidamente em praticamente todo o mundo, principalmente no Estados Unidos, em países da Europa e no Brasil, onde existem Associações de Psicoterapeutas de Vida Passadas. Os seus adeptos afirmam se tratar de um aprofundamento da teorias de Freud na busca do conhecimento da psique humana. Alguns praticantes da terapia de vidas passadas (TVP) escreveram livros sobre os resultados de suas experiência nessa área, sendo já vasta a literatura sobre o assunto. Um dos mais renomados é o dr. Brian Weiss, psiquiatra norte-americano que é auto entre outros livros, do best-selle Muitas Vidas, Muitos Mestres, traduzido em mais de 24 línguas e com mais de 3,5 milhões de exemplares vendidos no mundo todo.



A REENCANAÇÃO COMO LEI UNIVERSAL

Essa prática, desenvolvida por doutores e cientistas que afirmam nada ter a ver com a religião, vem apenas comprovar o dogma fundamental do Espiritismo e de outras religiões milenares: que a reencarnação é uma realidade, melhor dizendo, É uma lei universal. Alguns dirão que Cristianismo nega a reencarnação. É um engano. Quem quiser saber mais sobre este assunto, deve ler o livro Reencarnação, o Elo Perdido do Cristianismo, de autoria da pesquisadora norte-americana Elizabeth Clare Prophet, que reúne vasto documentário provando que a reencarnação fazia parte do credo dos antigos cristãos. Dentro da literatura espírita, sugerimos o livro 50 Anos Depois, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Somente a partir do Concílio de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino no ano de 325 d.C., ficou banido do credo da Igreja Católica o dogma da reencarnação, ficando decidido nesse concílio que "o homem, a criatura, só poderia encontrar a salvação através de uma subserviência total à igreja e à sua lei". Essa é, ainda hoje, a posição oficial da Igreja.

Em setembro do ano passado, foi divulgado pelo Vaticano um documento intitulado "Hominus Jesus", o qual indica que o único caminho para a salvação é o da Igreja Católica. Tal documento, elaborado pelo cardeal Joseph Ratzinger, chefe da Congregação para da Doutrina da Fé (órgão que sucedeu o famoso Tribunal do Santo Oficio), foi, evidentemente, aprovado e assinado pelo Papa João Paulo II, causando espanto e despertando críticas de representantes cristãos não-católicos e líderes de outras religiões, por contrastar com a pregação ecumênica desenvolvida pelo Papa.

Posteriormente, declarações de outros líderes da Igreja procuraram amenizar o teor do citado documento. Por esse critério, fica difícil determinar o destino, após a morte, de milhões, talvez bilhões de criaturas que viveram e morreram bem antes da existência da Igreja Católica.

Quando Galileu Galilei (1564/ 1642), físico e astrônomo italiano, proclamou o heliocentrismo, ou seja, o sistema que afirma ser o Sol o centro do nosso Universo e não a Terra, dando razão a Copérnico, despertou a irada Santa Inquisição, que o tachou de herege porque, segundo o entendimento da Igreja, baseado na Bíblia, era o Sol que girava em torno da Terra. Galilei, para escapar da condenação à fogueira, teria abjurado de sua teoria, mas foi condenado a viver recluso pelo resto de sua vida. Dizem que ao deixar o Tribunal do Santo Oficio, após ouvir a sentença, teria murmurado: "e pur, se muove", cuja tradução seria "entretanto, ela (a Terra) se move". Isso significa que ele renunciou à sua idéia apenas para se livrar da fogueira.



A IGREJA IGNORA A REENCARNAÇÃO

O mesmo se dá com a reencarnação. A Igreja, para atender aos seus próprios interesses, qual seja, e ser a única a ter a primazia de "salvar" as criaturas, decretou que a reencarnação não existe. Vive-se uma única vez e seremos julgados pelo que tivermos feito nesta vida. Todavia, os espíritos continuam a reencarnar. Mais dia, menos dia, a Igreja terá de se retratar, como fez recentemente com relação a Galilei, quando o atual Papa pediu desculpas pelo erro cometido há mais de 400 anos. Claro, hoje em dia ninguém ousaria continuar afirmando que o Sol gira em torno da Terra.

A propósito, leia-se a questão 166b de O Livro dos Espíritos: "A alma tem, então, muitas existências corpóreas? Sim, todos nós temos muitas existências. Os que dizem o contrário querem manter-vos na ignorância em que eles mesmos se encontram. Esse é o seu desejo".

Além disso, Kardec nos assegura que o Espiritismo propõe uma fé raciocinada. Então não será porque os espíritos dizem haver reencarnação que vamos acreditar cegamente. Devemos fazer um confronto entre as duas situações: a unicidade e a pluralidade de existências.

Fazendo uso da nossa razão e da nossa capacidade de raciocinar, o dom maior que Deus concedeu ao homem, veremos que a teoria da unicidade da existência não resiste a qualquer análise, levando-se em conta a realidade da vida do ser humano. Ela não dá respostas satisfatórias às questões transcendentais sobre as vicissitudes da vida (e da morte) e do destino dos homens, ao passo que a doutrina reencarnacionista apresenta respostas satisfatórias, compatíveis com o nosso senso de razão e com o entendimento que fazemos sobre a justiça Divina.



DESCOBRINDO NOVOS MUNDOS

O terceiro assunto do qual pretendemos falar aqui diz respeito à descoberta, nos últimos anos, de dezenas de planetas orbitando estrelas fora do nosso sistema solar. Com os modernos e sofisticados aparelhos de que dispõem os astrônomos em nossos dias, foi possível confirmar a existência, ainda que por meios indiretos (não foram ainda fotografados), de cerca de 50 planetas distantes muitos anos-luz da Terra. Essas descobertas servem para avivar ainda mais a discussão sobre a possibilidade de existência de vida fora da Terra.

Considerando que essas descobertas, apesar de tudo, representam uma insignificância ante a vastidão do Universo, a corrente de cientistas que defende a existência de vida extraterrestre tende a engrossar cada vez mais.

Isso tudo vem confirmar as teses expostas em O Livro dos Espíritos sobre o Universo, a sua criação, a sua infinitude, a inexistência de espaços vazios e a afirmação de que há vida (questão 55) em todos os globos que vagam pelo espaço.

O ponto crucial da tormentosa questão é que nossos cientistas buscam encontrar vida em outros planetas na forma como ela se apresenta na Terra. Todavia, a doutrina afirma (questão 56) que a constituição física dos globos não é a mesma para todos, que eles absolutamente não se assemelham. Daí concluirmos que a vida nesses outros orbes seja diferente da que conhecemos aqui na Terra. A matéria (e não nos esqueçamos que o corpo do ser humano é matéria) pode se apresentar em infinitos graus de condensação, por isso a vida em outros planetas poderá se manifestar sob formas que para nós seriam imperceptíveis e até mesmo inconcebíveis.

Alguém poderá argumentar: como pode um espírito que viveu encarnado na Terra vir a habitar outro orbe com condições físicas totalmente diferentes? Boa pergunta. A resposta para essa questão devemos buscar na existência do perispírito. A questão 93 de O Livro dos Espíritos diz: "O espírito propriamente dito vive a descoberto ou, como pretendem alguns, envolvido em alguma substância? O espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós, suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa se elevar na atmosfera e se transportar para onde quiser". E a questão 94: "De onde tira o Espírito o seu envoltório semi-material? Do fluido universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; passando de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório como mudais de roupa". Aí está. E não nos esqueçamos que o perispírito é o molde do corpo físico.



RESPOSTAS PARA TUDO

Os detratores do Espiritismo dirão que a doutrina tem uma resposta adequada a cada caso. E tem mesmo! E nós lhes indagaremos: que respostas tendes para tais e quais casos? Não valem aquelas clássicas "é a vontade de Deus", "Deus assim age para testar nossa fé", "a culpa é do destino" e outras no mesmo sentido.

Hoje, para nós, soam proféticas as palavras de Allan Kardec expressas em O Livro dos Espíritos e em outras de suas obras, dado a público em 18 de abril de 1857, portanto, há 143 anos, quando as ciências ainda engatinhavam e estavam longe das descobertas atuais. Nele lemos no Cap. III, parte VI: "As idéias religiosas, longe de perder, se engrandecem ao marchar com a ciência; esse é o único meio de não apresentarem ao ceticismo um lado vulnerável".

Nem poderia ser de outra forma. Ciência e religião têm suas origens na mesma fonte: Deus, que atribuiu aos homens a razão e a inteligência. Portanto, não podem ser antagônicas, mas antes caminhar juntas para acelerar a trajetória da humanidade, em busca de melhores dias.





O QUE DIZ O LIVRO DOS ESPIÍRITOS

Neste ponto seria útil para o nosso melhor entendimento relembrar algumas questões contidas em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a saber: "O que é a alma? Um espírito encarnado. O que era a alma antes de se unir ao corpo? Espírito. As almas e os espíritos são, pois, identicamente a mesma coisa? Sim. As almas não são senão os espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que revestem temporariamente um corpo carnal, para se purificar e esclarecer. O que seria o nosso corpo se não tivesse alma? Massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, menos um homem. O mesmo espírito pode encarnar em dois corpos diferentes ao mesmo tempo? Não. O espírito é indivisível e não pode animar, simultaneamente, dois seres distintos. Os pais transmitem aos filhos uma porção de sua alma ou lhes dão apenas a vida animal, à qual mais tarde uma nova alma vem acrescentar a vida moral? Só a vida animal, porque a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa”.

(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 11, páginas 06-10)

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