POLTERGEISTER
Apesar das pesquisas científicas a respeito do fenômeno poltergeist encontrarem algumas dificuldades - especialmente devido a natureza do fenômeno – já e possível contar com alguns avanços e elaboração de teorias a respeito dos mecanismos envolvidos nos casos, o que anima algumas empresas importantes a investir na pesquisa.
Fátima Regina Machado
Fátima Regina Machado
Era 1948. No Jardim Europa, São Paulo, uma família teve sua residência assolada dias e dias por várias chuvas de pedras que se atiravam contra a casa, quebrando vidraças e provocando muitos estragos. A polícia foi chamada. Vizinhos foram interrogados. As investigações não conseguiram dar conta de explicar a ocorrência dos estranhos fenômenos. Além das pedras, dentro da casa objetos desapareciam e reapareciam em lugares inusitados, como fotos de família que apareceram dentro do vaso sanitário. Peças de roupas apareciam retalhadas.
Final da década de 1970, início da década de 1980. No bairro de Pirituba, São Paulo, uma família se via assustada com eventos estranhos que ocorriam em sua residência. A modesta casa, que sempre fora extremamente limpa e bem cuidada, começou a sofrer ataques constantes de tijolos e terra. Sem que houvesse qualquer dano no telhado, eles se “atiravam” dentro dos cômodos, como se materializassem no ar, provocando muita sujeira e estragos nos móveis comprados com tanto sacrifício. Na cozinha, como se não bastassem esses ataques, pratos e xícaras “teimavam” em não permanecer dentro do armário, lançando-se ao chão, como se uma grande força os impulsionasse para fora das prateleiras. Por vezes, a luz do banheiro se acendia sem que ninguém estivesse naquele cômodo. Os fios elétricos que percorriam os caibros do telhado sem forro do quarto apareceram picados, como se alguém tivesse utilizado uma faca para fazê-lo.
Em 1983, num bairro da periferia de São Paulo, um casal e seus três filhos (um menino de 12 anos e duas meninas, uma de 8 e a outra de 3 anos de idade) ficaram perplexos diante de estranhos eventos que aconteciam em sua residência. As cortinas se balançavam, chegando por vezes até o teto, mesmo quando as janelas e portas estavam completamente fechadas; certo local da casa apresentava temperatura sensivelmente mais fria do que os outros cômodos; alguns objetos se moviam como se tivessem vida própria.
Os trechos das histórias contadas brevemente acima não são fruto de ficção. Trata-se de fatos narrados pelos pesquisadores que investigaram tais casos ou pelas próprias pessoas que vivenciaram essas experiências bizarras. São eventos típicos que compõem os chamados casos poltergeist.
OS EVENTOS POLTERGEIST (do alemão polter = barulhento; geist = espírito), começaram a ser assim chamados sistematicamente por Martinho Lutero (1483-1546) durante a Reforma Protestante para designar determinados eventos que, segundo se acreditava religiosa e popularmente, seriam provocados por espíritos desencarnados ou até mesmo por demônios. Esses eventos consistiriam em ocorrências físicas extra-motoras, ou seja, sem que, à primeira vista, fosse identificada alguma causa natural ou conhecida para que esses eventos acontecessem: movimentação e/ou ruptura “espontânea” de objetos; chuva de pedras ou tijolos sobre uma casa ou em um determinado ambiente fechado; aparecimento espontâneo de água e/ou fogo; aparecimento de fezes em alimentos; correntes de ar; acender, e apagar de luzes, tudo isso de forma misteriosa aos olhos das pessoas que observam essas ocorrências.
Por se tratar de eventos de características tão extraordinárias, é comum que à primeira vista se atribua uma causa sobrenatural a esses “fenômenos”. Diferentes grupos culturais podem utilizar diversas denominações e explicações populares e particulares para esses eventos. No Brasil, as pessoas comumente chamam o local onde os poltergeists ocorrem de casas ou locais mal-assombradas. Principalmente na zona rural, os poltergeists podem ser atribuídos a figuras folclóricas, como o Saci-Perere, que viveria pelas florestas e fazendas fazendo traquinagens com animais e pessoas. Na zona urbana, as interpretações mais freqüentes se voltam para a crença numa suposta ação de espíritos ou entidades, por influência das religiões afro-brasileiras e do espiritismo kardecista.
Julgar que se conheça a causa desses eventos apenas por sua aparência, ou seja, pelo modo estranho e sugestivamente sobrenatural com que ocorrem, é algo comum às religiões. No campo científico, cientistas tentam descobrir se esses eventos de fato ocorrem em determinadas situações e, a partir daí, o modo de funcionamento dessas ocorrências. Será que existem facetas das forças conhecidas da física ainda não devidamente entendidas, que seriam as responsáveis pelos poltergeists em dadas circunstâncias? Ou haveria alguma força física ainda não conhecida que estaria envolvida nesses episódios? Questões cruciais que pesquisadores psi tentam resolver oficialmente há mais de um século.
HÁ REGISTROS DE RELATOS DE CASOS poltergeist desde os tempos mais remotos até o presente. Esses relatos foram registrados de diferentes formas, sendo alguns mais detalhados e precisos que outros; uns se referem a casos mais pitorescos e extensos, outros a casos “menos fantásticos” e de curta duração. Mas certamente não há qualquer relato que fale de certos eventos que o cinema nos apresenta. Há que se levar em conta que os filmes muitas vezes exageram nos efeitos poltergeist.
Cientistas têm se interessado pelo estudo desses casos, uma vez que eles são narrados insistentemente ao longo da história. Apesar de raros, esses eventos parecem acontecer com mais freqüência do que se imagina. Uma coletânea feita pelos pesquisadores Hereward Carrington (1880-1959) e Nandor Fodor (1895-1964), publicada em 1953 (Haunted People: The Story of Poltergeists Down the Centuries), traz registros de ocorrências poltergeist desde 355 a.C. Na literatura especializada, ainda há vários relatos associados a supostos místicos, santos e vítimas de bruxaria. Desde o século 9, não há um século que deixe de contar com pelo menos um registro de caso do tipo poltergeist.
Até o século 18, acreditava-se que os chamados eventos poltergeist fossem provocados por entes espirituais, fadas, bruxas e pelo diabo. Do século 17 há notícias de algumas pesquisas rudimentares, porém conduzidas seriamente, acerca dessas ocorrências. No entanto, devido à forte influência da Igreja Católica Apostólica Romana, nessa época, a grande preocupação social no Ocidente era o combate à bruxaria, à possessão diabólica e ao envolvimento com espíritos. Dessa forma, pouca importância se dava às ocorrências físicas propriamente ditas, enfatizando-se primordialmente a discussão de questões religiosas.
Nos séculos 18 e 19, o declínio da bruxaria, o desenvolvimento do mesmerismo (técnica de cura criada pelo médico vienense Franz Anton Mesmer (1734-1815), baseada na existência do “magnetismo animal” realizada por meio de imposição de mãos e de ímãs) e do espiritismo kardecista, entre outros fatores, levaram a uma abordagem de pesquisa mais científica dos poltergeists. Várias ocorrências desse tipo foram descritas detalhadamente e publicadas. Alguns investigadores se hospedavam nas casas em que se davam os eventos para observar o ambiente sob condições controladas, a fim de evitar fraudes.
O SÉCULO 19 APRESENTOU DOIS TIPOS DE INTERPRETAÇÃO para as ocorrências poltergeist: um sobrenaturalista e outro naturalista. As interpretações sobrenaturalistas, principalmente de cunho espírita ou espiritualista, responsabilizavam espíritos de mortos e/ou seres elementais não-humanizados pelos assim chamados eventos poltergeist. Por sua vez, as interpretações naturalistas buscavam na ciência explicações naturais para aqueles eventos. Era comum levantar a hipótese de que a eletricidade seria a causadora daqueles “misteriosos” fenômenos físicos, porque as propriedades dessa forma de energia eram pouco entendidas. Em algumas circunstâncias, atribuía-se a causa dos poltergeists a energias psíquicas ou magnéticas do corpo humano. A não-atribuição apenas de explicações sobrenaturalistas aos poltergeists contribuiu para um importante avanço nas pesquisas.
Para alguns pesquisadores dos séculos 19 e 20, os poltergeists nunca passaram de fraudes bem montadas. Especialmente no início do século 20, debateu-se exaustivamente a respeito desse assunto. Porém, pesquisadores observaram que há casos em que realmente parece haver algum tipo de interferência ambiental não-fraudulenta e aparentemente extra-motora que provocaria os eventos poltergeist. Assim, surgiram teorias que tentam explicar cientificamente como se daria essa intervenção.
Uma das primeiras observações feitas foi a de que as ocorrências poltergeist parecem estar ligadas à presença de determinada pessoa que habita ou freqüenta o local dos eventos. Ainda não há consenso sobre como denominar essa pessoa, mas, principalmente desde o início da década de 1990, opta-se por chamá-la de “agente” ou “sujeito” poltergeist.
O século 20 foi marcado pelas especulações e interpretações psicodinâmicas dos poltergeists à luz da psicologia e da psicanálise.
Na década de 1920, o pesquisador Carrington propôs que os poltergeists seriam produzidos por uma espécie de energia irradiada do corpo do agente no período da puberdade, quando as energias sexuais estão em “ebulição” em seus organismos. Possivelmente, vem daí o “mito” de que sempre há um adolescente envolvido ou responsável pelos poltergeists. Essa teoria de Carrington se aplicaria a muitos casos, mas não a todos, uma vez que, apesar de aparentemente haver uma tendência para que o agente seja um adolescente, a história registra casos em que o suposto agente não se encontra na adolescência, sendo por vezes bastante idoso.
É bom que se diga também que há uma “crença” difundida de que, em geral, os agentes poltergeist são do sexo feminino. No entanto, William Roll verificou, através de um levantamento de dados publicado em 1977, que a porcentagem de supostos agentes do sexo masculino e do sexo feminino é equilibrada, apresentando uma leve tendência, sem importância estatística, para a incidência de agentes do sexo feminino. O fato da porcentagem de mulheres ser um pouco superior à de homens pode se dever, por exemplo, às proporções de homens e mulheres na população em geral à época da ocorrência dos casos. De qualquer forma, essa questão relacionada ao sexo e à idade dos agentes ainda carece de mais pesquisas e maior aprofundamento.
NA DÉCADA DE 1930, O POLTERGEIST ERA tratado como um “hóspede indesejado”, não exatamente como algo independente do agente, mas como fruto de uma psicopatologia. De acordo com essa idéia, o agente poltergeist estaria sofrendo de uma espécie de doença, de desequilíbrio que causaria os fenômenos. Essa idéia ainda é defendida por alguns, mas ela não tem fundamentos na prática. As pesquisas mostram que não há correlação direta entre doença física ou mental e a ocorrência de eventos poltergeists. Assim, qualquer pessoa, sã ou doente, pode potencialmente se tornar um agente poltergeist, em determinadas circunstâncias.
Na década de 1940, o psicólogo britânico John Layard propôs que os poltergeists proveriam “uma forma dissimulada de alívio e, assim, uma função curativa para conflitos reprimidos”. Portanto, a ocorrência dos fenômenos se daria como uma válvula de escape para essas tensões que são muitas vezes reprimidas “para manter as aparências”. É como se a agressividade de uma pessoa se projetasse de alguma forma no ambiente, provocando os eventos já descritos. No entanto, as pessoas envolvidas geralmente não se dão conta de sua participação nos fatos.
A partir de então, a hipótese de envolvimento do ser humano vivo nas ocorrências poltergeist por meio de uma interação mental direta com o ambiente começou a ganhar mais força. Estabelecia-se, assim, a chamada teoria psicocinética psicológica para explicar os poltergeists. A partir do final da década de 50, foi proposta uma nova denominação para os poltergeist: psicocinesia recorrente espontânea ou RSPK (do inglês recurrent spontaneous psychokinesis). Psicocinesia se refere à ação mental direta, sem mediação física conhecida, sobre o ambiente (do grego psique = mente; kinese = movimento).
Os termos “recorrente” e “espontânea” são utilizados respectivamente porque as ocorrências se repetem por determinado período de tempo e de forma não controlada. Portanto, de acordo com essa teoria – que continua sendo aperfeiçoada e discutida pelos pesquisadores – como já foi brevemente dito, os poltergeists seriam eventos físicos que teriam íntima ligação com o contexto em que eles se dão. Assim, suponhamos, numa família em que há um conflito religioso, por exemplo, objetos religiosos podem ser afetados (Bíblias que se rasgam, terços e imagens religiosas que se movimentam por si só, etc.). Ou em um escritório onde há problemas de relacionamento entre colegas de trabalho, são afetados objetos pessoais ou de uso primordialmente de uma determinada pessoa envolvida nesses conflitos.
UM QUESTIONAMENTO que comumente se faz acerca dessa explicação é: se todos nós temos problemas, por que não somos, a todo momento, bombardeados por eventos de tipo poltergeist? Infelizmente, a resposta é: ainda não sabemos. Aparentemente, determinadas pessoas lançam mão desse tipo de recurso para externalizar suas angústias e expressar sua agressividade, reprimidos devido a circunstâncias. Os poltergeists, então, teriam duas funções: alívio de tensão e comunicação ou expressão de conteúdos internos reprimidos, sendo esta última talvez a função mais fundamental.
Explicando melhor: assim como certas pessoas buscam alívio para seu estresse e tensões praticando algum esporte, outras inconscientemente provocariam certos efeitos poltergeist. Mas não provocariam o poltergeist de forma caótica. Esses fenômenos têm uma lógica intrínseca, que diz respeito ao contexto, à situação vivida por aquela pessoa e pelo grupo em que ela está inserida. Nesse sentido, os poltergeists funcionam de modo semelhante ao mecanismo dos sonhos descrito por Freud.
Como disse em minha tese de doutoramento que estuda os poltergeists enquanto linguagem: “De acordo com o ponto de vista freudiano, o sonho serviria como um modo inconsciente de realização de desejos e/ou satisfação de necessidades que nem sempre podem ser realizadas ou satisfeitas por questões sociais, culturais ou circunstanciais. (...) Os casos poltergeist analisados nos mostram que os fenômenos poltergeist, assim como os sonhos, também seriam meios de realizar e expressar desejos e necessidades. Mas os poltergeists parecem dar um passo além dos sonhos. Enquanto o sonho é uma metáfora mental de desejos e necessidades e/ou de sua realização/satisfação, o poltergeist parece ser a grande metáfora corporificada de uma crise ou a realização efetiva de um desejo de agressão, por exemplo. Os fenômenos poltergeist são externos, observáveis, compartilhados, portanto, são sociais. Os sonhos, por sua vez, só se tornam sociais quando se transformam em narrativas. Somente quando contados a outras pessoas é que os sonhos são compartilhados em alguma medida. Enquanto isso, o poltergeist, sendo fruto da dinâmica psicossocial de um grupo, somente pode acontecer de forma compartilhada. E é social também porque parece ser um modo de tentar resolver algo que ocorre nesse ambiente”.
Portanto, os poltergeists funcionam como uma linguagem. Essa conclusão tem respaldo no fato de que quando os problemas que envolvem determinada família ou grupo que vivencia um poltergeist são identificados e verbalizados, ou seja, as pessoas conversam sobre seus descontentamentos e colocam os pingos nos “is”, os fenômenos tendem a diminuir e cessar por completo. Assim sendo, os poltergeists seriam um meio de expressão, uma linguagem metafórica por meio da qual determinados indivíduos expressam desejos, necessidades e agressividade quando essa expressão é reprimida por causa da cultura, das convenções sociais etc. Havendo a possibilidade de falar a respeito de suas angústias, ou seja, de trocar essa linguagem metafórica pela linguagem verbal, pela conversa, pelo diálogo, os fenômenos cessam.
OS POLTERGEIST CUMPREM SEU PAPEL de linguagem porque acabam por promover, de uma forma ou de outra, a resolução dos problemas que o motivaram. Ou seja, os problemas são comunicados metaforicamente por meio das ocorrências que “forçam” uma reflexão sobre essas questões.
Pessoas identificadas como agentes poltergeist comumente não se reconhecem como tais, mas aos poucos acabam por identificar as ocorrências com seus desejos e necessidades. Esse reconhecimento e o aprender a lidar com essas angústias auxiliam também na cessação dos fenômenos.
É importante lembrar que existem, de fato, muitos eventos fraudulentos que imitam os poltergeists. Essas fraudes podem ocorrer por vários motivos: alguém que tenta chamar a atenção ou assustar as pessoas com as quais convive, por exemplo. De qualquer forma, as fraudes e os chamados eventos poltergeist genuínos parecem seguir a mesma lógica: expressão de algo interno reprimido. Um idoso ou um adolescente que de propósito forja eventos de efeitos semelhantes ao poltergeist podem ter a mesma motivação que seria válida para uma outra situação em que se daria um caso poltergeist propriamente dito. Dessa forma, casos poltergeists, genuínos ou não, se comportam, se estruturam como uma linguagem, compartilham de uma mesma lógica e provocam efeitos, no mínimo, semelhantes. O estudo dessa lógica e dos efeitos comuns certamente pode auxiliar na compreensão não só dos casos poltergeists em si, mas também do ser humano, em última instância.
Para além das características pessoais de personalidade das pessoas envolvidas – que foram detectadas por meio de testes psicológicos cuja eficácia é questionável – há também questões ambientais importantes que têm sido estudadas. A partir da década de 1960, pesquisadores como Hans Bender (1907-1991) passaram a utilizar instrumentos nas investigações para detectar, no local das ocorrências, vibrações, energia eletrostática, sons e mudanças de temperatura. Atualmente, William Roll e outros pesquisadores de poltergeists, como Andrew Nichols e Michaeleen Maher, continuam a utilizar tecnologia moderna nas pesquisas de campo. Além disso, estudos, principalmente os realizados pelo pesquisador Michael Persinger, investigam a correlação entre a atividade geomagnética da Terra e a incidência de ocorrências poltergeist.
Alguns poucos estudos fisiológicos também têm sido realizados a fim de tentar descobrir se os chamados agentes poltergeist teriam alguma característica fisiológica específica que os faria propensos a desencadear os fenômenos, mas ainda não foram encontrados resultados significativos.
A chave para uma compreensão mais abrangente dos poltergeists ainda não foi encontrada. Parece haver uma conexão entre aspectos psicológicos, físicos e talvez fisiológicos que, em dadas circunstâncias, propiciam essas ocorrências.
A investigação científica dos poltergeists tem andado a passos lentos devido às dificuldades de pesquisa, resultantes das peculiaridades desses eventos e dos obstáculos enfrentados pelos pesquisadores. Apesar de todas essas dificuldades, as muitas centenas de relatos de poltergeists registrados ao longo da história da humanidade, especialmente nos três últimos séculos, fornecem dados que dão pistas acerca das condições e facilitação dessas ocorrências, e já é possível contar com alguns avanços e teorias a respeito dos mecanismos nelas envolvidos.
Esses avanços animam algumas importantes empresas a investirem no estudo da possível aplicação do potencial psicocinético humano. Pesquisas experimentais são financiadas com a finalidade de descobrir meios de dominar a gravidade e levitar objetos, acender e apagar as luzes com a força do pensamento e coisas desse tipo. A AT&T, a Sony Corporation e outras empresas japonesas de telecomunicações, além da Fundação Bial, de Porto, Portugal, mantida por uma importante indústria farmacêutica, já investiram milhões em pesquisas com o objetivo de descobrir algo nesse sentido.
No Brasil, há poucas investigações científicas de casos poltergeist brasileiros divulgadas. A maioria dos livros e trabalhos que tratam do assunto apresentam tendências religiosas, principalmente espíritas ou católicas, antiespiritismo. Mas uma nova geração de pesquisadores está se interessando pelo tema, com promessas de novas pesquisas sem o envolvimento de crenças e dogmatismos.
Fátima Regina Machado é Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP), Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e Coordenadora do Inter Psi (www.interpsi.cjb.net).
Contato: Se os leitores quiserem enviar casos para compor os arquivos de pesquisa, podem fazê-lo pelo e-mail: interpsibr@yahoo.com.br
(Extraído da revista Sexto Sentido 46, páginas 34-40)
Final da década de 1970, início da década de 1980. No bairro de Pirituba, São Paulo, uma família se via assustada com eventos estranhos que ocorriam em sua residência. A modesta casa, que sempre fora extremamente limpa e bem cuidada, começou a sofrer ataques constantes de tijolos e terra. Sem que houvesse qualquer dano no telhado, eles se “atiravam” dentro dos cômodos, como se materializassem no ar, provocando muita sujeira e estragos nos móveis comprados com tanto sacrifício. Na cozinha, como se não bastassem esses ataques, pratos e xícaras “teimavam” em não permanecer dentro do armário, lançando-se ao chão, como se uma grande força os impulsionasse para fora das prateleiras. Por vezes, a luz do banheiro se acendia sem que ninguém estivesse naquele cômodo. Os fios elétricos que percorriam os caibros do telhado sem forro do quarto apareceram picados, como se alguém tivesse utilizado uma faca para fazê-lo.
Em 1983, num bairro da periferia de São Paulo, um casal e seus três filhos (um menino de 12 anos e duas meninas, uma de 8 e a outra de 3 anos de idade) ficaram perplexos diante de estranhos eventos que aconteciam em sua residência. As cortinas se balançavam, chegando por vezes até o teto, mesmo quando as janelas e portas estavam completamente fechadas; certo local da casa apresentava temperatura sensivelmente mais fria do que os outros cômodos; alguns objetos se moviam como se tivessem vida própria.
Os trechos das histórias contadas brevemente acima não são fruto de ficção. Trata-se de fatos narrados pelos pesquisadores que investigaram tais casos ou pelas próprias pessoas que vivenciaram essas experiências bizarras. São eventos típicos que compõem os chamados casos poltergeist.
OS EVENTOS POLTERGEIST (do alemão polter = barulhento; geist = espírito), começaram a ser assim chamados sistematicamente por Martinho Lutero (1483-1546) durante a Reforma Protestante para designar determinados eventos que, segundo se acreditava religiosa e popularmente, seriam provocados por espíritos desencarnados ou até mesmo por demônios. Esses eventos consistiriam em ocorrências físicas extra-motoras, ou seja, sem que, à primeira vista, fosse identificada alguma causa natural ou conhecida para que esses eventos acontecessem: movimentação e/ou ruptura “espontânea” de objetos; chuva de pedras ou tijolos sobre uma casa ou em um determinado ambiente fechado; aparecimento espontâneo de água e/ou fogo; aparecimento de fezes em alimentos; correntes de ar; acender, e apagar de luzes, tudo isso de forma misteriosa aos olhos das pessoas que observam essas ocorrências.
Por se tratar de eventos de características tão extraordinárias, é comum que à primeira vista se atribua uma causa sobrenatural a esses “fenômenos”. Diferentes grupos culturais podem utilizar diversas denominações e explicações populares e particulares para esses eventos. No Brasil, as pessoas comumente chamam o local onde os poltergeists ocorrem de casas ou locais mal-assombradas. Principalmente na zona rural, os poltergeists podem ser atribuídos a figuras folclóricas, como o Saci-Perere, que viveria pelas florestas e fazendas fazendo traquinagens com animais e pessoas. Na zona urbana, as interpretações mais freqüentes se voltam para a crença numa suposta ação de espíritos ou entidades, por influência das religiões afro-brasileiras e do espiritismo kardecista.
Julgar que se conheça a causa desses eventos apenas por sua aparência, ou seja, pelo modo estranho e sugestivamente sobrenatural com que ocorrem, é algo comum às religiões. No campo científico, cientistas tentam descobrir se esses eventos de fato ocorrem em determinadas situações e, a partir daí, o modo de funcionamento dessas ocorrências. Será que existem facetas das forças conhecidas da física ainda não devidamente entendidas, que seriam as responsáveis pelos poltergeists em dadas circunstâncias? Ou haveria alguma força física ainda não conhecida que estaria envolvida nesses episódios? Questões cruciais que pesquisadores psi tentam resolver oficialmente há mais de um século.
HÁ REGISTROS DE RELATOS DE CASOS poltergeist desde os tempos mais remotos até o presente. Esses relatos foram registrados de diferentes formas, sendo alguns mais detalhados e precisos que outros; uns se referem a casos mais pitorescos e extensos, outros a casos “menos fantásticos” e de curta duração. Mas certamente não há qualquer relato que fale de certos eventos que o cinema nos apresenta. Há que se levar em conta que os filmes muitas vezes exageram nos efeitos poltergeist.
Cientistas têm se interessado pelo estudo desses casos, uma vez que eles são narrados insistentemente ao longo da história. Apesar de raros, esses eventos parecem acontecer com mais freqüência do que se imagina. Uma coletânea feita pelos pesquisadores Hereward Carrington (1880-1959) e Nandor Fodor (1895-1964), publicada em 1953 (Haunted People: The Story of Poltergeists Down the Centuries), traz registros de ocorrências poltergeist desde 355 a.C. Na literatura especializada, ainda há vários relatos associados a supostos místicos, santos e vítimas de bruxaria. Desde o século 9, não há um século que deixe de contar com pelo menos um registro de caso do tipo poltergeist.
Até o século 18, acreditava-se que os chamados eventos poltergeist fossem provocados por entes espirituais, fadas, bruxas e pelo diabo. Do século 17 há notícias de algumas pesquisas rudimentares, porém conduzidas seriamente, acerca dessas ocorrências. No entanto, devido à forte influência da Igreja Católica Apostólica Romana, nessa época, a grande preocupação social no Ocidente era o combate à bruxaria, à possessão diabólica e ao envolvimento com espíritos. Dessa forma, pouca importância se dava às ocorrências físicas propriamente ditas, enfatizando-se primordialmente a discussão de questões religiosas.
Nos séculos 18 e 19, o declínio da bruxaria, o desenvolvimento do mesmerismo (técnica de cura criada pelo médico vienense Franz Anton Mesmer (1734-1815), baseada na existência do “magnetismo animal” realizada por meio de imposição de mãos e de ímãs) e do espiritismo kardecista, entre outros fatores, levaram a uma abordagem de pesquisa mais científica dos poltergeists. Várias ocorrências desse tipo foram descritas detalhadamente e publicadas. Alguns investigadores se hospedavam nas casas em que se davam os eventos para observar o ambiente sob condições controladas, a fim de evitar fraudes.
O SÉCULO 19 APRESENTOU DOIS TIPOS DE INTERPRETAÇÃO para as ocorrências poltergeist: um sobrenaturalista e outro naturalista. As interpretações sobrenaturalistas, principalmente de cunho espírita ou espiritualista, responsabilizavam espíritos de mortos e/ou seres elementais não-humanizados pelos assim chamados eventos poltergeist. Por sua vez, as interpretações naturalistas buscavam na ciência explicações naturais para aqueles eventos. Era comum levantar a hipótese de que a eletricidade seria a causadora daqueles “misteriosos” fenômenos físicos, porque as propriedades dessa forma de energia eram pouco entendidas. Em algumas circunstâncias, atribuía-se a causa dos poltergeists a energias psíquicas ou magnéticas do corpo humano. A não-atribuição apenas de explicações sobrenaturalistas aos poltergeists contribuiu para um importante avanço nas pesquisas.
Para alguns pesquisadores dos séculos 19 e 20, os poltergeists nunca passaram de fraudes bem montadas. Especialmente no início do século 20, debateu-se exaustivamente a respeito desse assunto. Porém, pesquisadores observaram que há casos em que realmente parece haver algum tipo de interferência ambiental não-fraudulenta e aparentemente extra-motora que provocaria os eventos poltergeist. Assim, surgiram teorias que tentam explicar cientificamente como se daria essa intervenção.
Uma das primeiras observações feitas foi a de que as ocorrências poltergeist parecem estar ligadas à presença de determinada pessoa que habita ou freqüenta o local dos eventos. Ainda não há consenso sobre como denominar essa pessoa, mas, principalmente desde o início da década de 1990, opta-se por chamá-la de “agente” ou “sujeito” poltergeist.
O século 20 foi marcado pelas especulações e interpretações psicodinâmicas dos poltergeists à luz da psicologia e da psicanálise.
Na década de 1920, o pesquisador Carrington propôs que os poltergeists seriam produzidos por uma espécie de energia irradiada do corpo do agente no período da puberdade, quando as energias sexuais estão em “ebulição” em seus organismos. Possivelmente, vem daí o “mito” de que sempre há um adolescente envolvido ou responsável pelos poltergeists. Essa teoria de Carrington se aplicaria a muitos casos, mas não a todos, uma vez que, apesar de aparentemente haver uma tendência para que o agente seja um adolescente, a história registra casos em que o suposto agente não se encontra na adolescência, sendo por vezes bastante idoso.
É bom que se diga também que há uma “crença” difundida de que, em geral, os agentes poltergeist são do sexo feminino. No entanto, William Roll verificou, através de um levantamento de dados publicado em 1977, que a porcentagem de supostos agentes do sexo masculino e do sexo feminino é equilibrada, apresentando uma leve tendência, sem importância estatística, para a incidência de agentes do sexo feminino. O fato da porcentagem de mulheres ser um pouco superior à de homens pode se dever, por exemplo, às proporções de homens e mulheres na população em geral à época da ocorrência dos casos. De qualquer forma, essa questão relacionada ao sexo e à idade dos agentes ainda carece de mais pesquisas e maior aprofundamento.
NA DÉCADA DE 1930, O POLTERGEIST ERA tratado como um “hóspede indesejado”, não exatamente como algo independente do agente, mas como fruto de uma psicopatologia. De acordo com essa idéia, o agente poltergeist estaria sofrendo de uma espécie de doença, de desequilíbrio que causaria os fenômenos. Essa idéia ainda é defendida por alguns, mas ela não tem fundamentos na prática. As pesquisas mostram que não há correlação direta entre doença física ou mental e a ocorrência de eventos poltergeists. Assim, qualquer pessoa, sã ou doente, pode potencialmente se tornar um agente poltergeist, em determinadas circunstâncias.
Na década de 1940, o psicólogo britânico John Layard propôs que os poltergeists proveriam “uma forma dissimulada de alívio e, assim, uma função curativa para conflitos reprimidos”. Portanto, a ocorrência dos fenômenos se daria como uma válvula de escape para essas tensões que são muitas vezes reprimidas “para manter as aparências”. É como se a agressividade de uma pessoa se projetasse de alguma forma no ambiente, provocando os eventos já descritos. No entanto, as pessoas envolvidas geralmente não se dão conta de sua participação nos fatos.
A partir de então, a hipótese de envolvimento do ser humano vivo nas ocorrências poltergeist por meio de uma interação mental direta com o ambiente começou a ganhar mais força. Estabelecia-se, assim, a chamada teoria psicocinética psicológica para explicar os poltergeists. A partir do final da década de 50, foi proposta uma nova denominação para os poltergeist: psicocinesia recorrente espontânea ou RSPK (do inglês recurrent spontaneous psychokinesis). Psicocinesia se refere à ação mental direta, sem mediação física conhecida, sobre o ambiente (do grego psique = mente; kinese = movimento).
Os termos “recorrente” e “espontânea” são utilizados respectivamente porque as ocorrências se repetem por determinado período de tempo e de forma não controlada. Portanto, de acordo com essa teoria – que continua sendo aperfeiçoada e discutida pelos pesquisadores – como já foi brevemente dito, os poltergeists seriam eventos físicos que teriam íntima ligação com o contexto em que eles se dão. Assim, suponhamos, numa família em que há um conflito religioso, por exemplo, objetos religiosos podem ser afetados (Bíblias que se rasgam, terços e imagens religiosas que se movimentam por si só, etc.). Ou em um escritório onde há problemas de relacionamento entre colegas de trabalho, são afetados objetos pessoais ou de uso primordialmente de uma determinada pessoa envolvida nesses conflitos.
UM QUESTIONAMENTO que comumente se faz acerca dessa explicação é: se todos nós temos problemas, por que não somos, a todo momento, bombardeados por eventos de tipo poltergeist? Infelizmente, a resposta é: ainda não sabemos. Aparentemente, determinadas pessoas lançam mão desse tipo de recurso para externalizar suas angústias e expressar sua agressividade, reprimidos devido a circunstâncias. Os poltergeists, então, teriam duas funções: alívio de tensão e comunicação ou expressão de conteúdos internos reprimidos, sendo esta última talvez a função mais fundamental.
Explicando melhor: assim como certas pessoas buscam alívio para seu estresse e tensões praticando algum esporte, outras inconscientemente provocariam certos efeitos poltergeist. Mas não provocariam o poltergeist de forma caótica. Esses fenômenos têm uma lógica intrínseca, que diz respeito ao contexto, à situação vivida por aquela pessoa e pelo grupo em que ela está inserida. Nesse sentido, os poltergeists funcionam de modo semelhante ao mecanismo dos sonhos descrito por Freud.
Como disse em minha tese de doutoramento que estuda os poltergeists enquanto linguagem: “De acordo com o ponto de vista freudiano, o sonho serviria como um modo inconsciente de realização de desejos e/ou satisfação de necessidades que nem sempre podem ser realizadas ou satisfeitas por questões sociais, culturais ou circunstanciais. (...) Os casos poltergeist analisados nos mostram que os fenômenos poltergeist, assim como os sonhos, também seriam meios de realizar e expressar desejos e necessidades. Mas os poltergeists parecem dar um passo além dos sonhos. Enquanto o sonho é uma metáfora mental de desejos e necessidades e/ou de sua realização/satisfação, o poltergeist parece ser a grande metáfora corporificada de uma crise ou a realização efetiva de um desejo de agressão, por exemplo. Os fenômenos poltergeist são externos, observáveis, compartilhados, portanto, são sociais. Os sonhos, por sua vez, só se tornam sociais quando se transformam em narrativas. Somente quando contados a outras pessoas é que os sonhos são compartilhados em alguma medida. Enquanto isso, o poltergeist, sendo fruto da dinâmica psicossocial de um grupo, somente pode acontecer de forma compartilhada. E é social também porque parece ser um modo de tentar resolver algo que ocorre nesse ambiente”.
Portanto, os poltergeists funcionam como uma linguagem. Essa conclusão tem respaldo no fato de que quando os problemas que envolvem determinada família ou grupo que vivencia um poltergeist são identificados e verbalizados, ou seja, as pessoas conversam sobre seus descontentamentos e colocam os pingos nos “is”, os fenômenos tendem a diminuir e cessar por completo. Assim sendo, os poltergeists seriam um meio de expressão, uma linguagem metafórica por meio da qual determinados indivíduos expressam desejos, necessidades e agressividade quando essa expressão é reprimida por causa da cultura, das convenções sociais etc. Havendo a possibilidade de falar a respeito de suas angústias, ou seja, de trocar essa linguagem metafórica pela linguagem verbal, pela conversa, pelo diálogo, os fenômenos cessam.
OS POLTERGEIST CUMPREM SEU PAPEL de linguagem porque acabam por promover, de uma forma ou de outra, a resolução dos problemas que o motivaram. Ou seja, os problemas são comunicados metaforicamente por meio das ocorrências que “forçam” uma reflexão sobre essas questões.
Pessoas identificadas como agentes poltergeist comumente não se reconhecem como tais, mas aos poucos acabam por identificar as ocorrências com seus desejos e necessidades. Esse reconhecimento e o aprender a lidar com essas angústias auxiliam também na cessação dos fenômenos.
É importante lembrar que existem, de fato, muitos eventos fraudulentos que imitam os poltergeists. Essas fraudes podem ocorrer por vários motivos: alguém que tenta chamar a atenção ou assustar as pessoas com as quais convive, por exemplo. De qualquer forma, as fraudes e os chamados eventos poltergeist genuínos parecem seguir a mesma lógica: expressão de algo interno reprimido. Um idoso ou um adolescente que de propósito forja eventos de efeitos semelhantes ao poltergeist podem ter a mesma motivação que seria válida para uma outra situação em que se daria um caso poltergeist propriamente dito. Dessa forma, casos poltergeists, genuínos ou não, se comportam, se estruturam como uma linguagem, compartilham de uma mesma lógica e provocam efeitos, no mínimo, semelhantes. O estudo dessa lógica e dos efeitos comuns certamente pode auxiliar na compreensão não só dos casos poltergeists em si, mas também do ser humano, em última instância.
Para além das características pessoais de personalidade das pessoas envolvidas – que foram detectadas por meio de testes psicológicos cuja eficácia é questionável – há também questões ambientais importantes que têm sido estudadas. A partir da década de 1960, pesquisadores como Hans Bender (1907-1991) passaram a utilizar instrumentos nas investigações para detectar, no local das ocorrências, vibrações, energia eletrostática, sons e mudanças de temperatura. Atualmente, William Roll e outros pesquisadores de poltergeists, como Andrew Nichols e Michaeleen Maher, continuam a utilizar tecnologia moderna nas pesquisas de campo. Além disso, estudos, principalmente os realizados pelo pesquisador Michael Persinger, investigam a correlação entre a atividade geomagnética da Terra e a incidência de ocorrências poltergeist.
Alguns poucos estudos fisiológicos também têm sido realizados a fim de tentar descobrir se os chamados agentes poltergeist teriam alguma característica fisiológica específica que os faria propensos a desencadear os fenômenos, mas ainda não foram encontrados resultados significativos.
A chave para uma compreensão mais abrangente dos poltergeists ainda não foi encontrada. Parece haver uma conexão entre aspectos psicológicos, físicos e talvez fisiológicos que, em dadas circunstâncias, propiciam essas ocorrências.
A investigação científica dos poltergeists tem andado a passos lentos devido às dificuldades de pesquisa, resultantes das peculiaridades desses eventos e dos obstáculos enfrentados pelos pesquisadores. Apesar de todas essas dificuldades, as muitas centenas de relatos de poltergeists registrados ao longo da história da humanidade, especialmente nos três últimos séculos, fornecem dados que dão pistas acerca das condições e facilitação dessas ocorrências, e já é possível contar com alguns avanços e teorias a respeito dos mecanismos nelas envolvidos.
Esses avanços animam algumas importantes empresas a investirem no estudo da possível aplicação do potencial psicocinético humano. Pesquisas experimentais são financiadas com a finalidade de descobrir meios de dominar a gravidade e levitar objetos, acender e apagar as luzes com a força do pensamento e coisas desse tipo. A AT&T, a Sony Corporation e outras empresas japonesas de telecomunicações, além da Fundação Bial, de Porto, Portugal, mantida por uma importante indústria farmacêutica, já investiram milhões em pesquisas com o objetivo de descobrir algo nesse sentido.
No Brasil, há poucas investigações científicas de casos poltergeist brasileiros divulgadas. A maioria dos livros e trabalhos que tratam do assunto apresentam tendências religiosas, principalmente espíritas ou católicas, antiespiritismo. Mas uma nova geração de pesquisadores está se interessando pelo tema, com promessas de novas pesquisas sem o envolvimento de crenças e dogmatismos.
Fátima Regina Machado é Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP), Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e Coordenadora do Inter Psi (www.interpsi.cjb.net).
Contato: Se os leitores quiserem enviar casos para compor os arquivos de pesquisa, podem fazê-lo pelo e-mail: interpsibr@yahoo.com.br
(Extraído da revista Sexto Sentido 46, páginas 34-40)