ROBERTO SHINYASHIKI: FELICIDADE

Conferencista, consultor organizacional, Roberto Shinyashiki é um nome de referência quando se fala em qualidade de vida e motivação. Em entrevista exclusiva, ele revela histórias inéditas de sua vida e transmite lições de liderança e de como construir bases sólidas para um novo mundo.

Alex Alprim
Roberto Shinyashiki, autor de dez livros, que venderam um total de 5,5 milhões de exemplares somente no Brasil, é uma referência para todos os que estudam e buscam aplicar os conceitos da espiritualidade ao mundo empresarial. Seu trabalho recebeu forte influência de estudos realizados pelo Oriente, mas também faz uso de antigas tradições espirituais do Ocidente, numa pluralidade que permite comunicar a seus leitores a mais profunda verdade: o importante é ser feliz.

Médico psiquiatra, Shinyashiki é pós-graduado em Administração de Empresas (MBA - USP) e professor da Cadeira de Liderança do Eurofórum (Espanha). Em palestras, conferências e fóruns, ele sempre alerta sua platéia para as mudanças que as empresas e a sociedade estão vivendo e os riscos que corremos com cada escolha que fazemos.

Em seu trabalho, Roberto também ressalta o papel das empresas no processo de transformação do homem e como as competências de cada um podem ser usadas para construir campeões, pessoas preocupadas não só com suas contas e ganhos, mas com a criação de uma sociedade solidária, justa e ética.

Shinyashiki tem uma participação ampla em vários projetos ligados ao chamado Terceiro Setor. Sua dedicação às causas sociais rendeu-lhe o prêmio Hadge Capers, da Associação Internacional de Análise Transacional, como melhor projeto de solidariedade mundial.

Numa entrevista exclusiva concedida à Sexto Sentido, o médico e palestrante revela, pela primeira vez, como decidiu pregar a felicidade após a morte de seu mestre Osho.



Atualmente vemos no universo empresarial uma busca por resultados e metas, que lembra de maneira triste a mentalidade da década de 1980. Como você vê isso?

Eu tenho dito às empresas que o grande desafio no mundo do trabalho é ser competitivo e, ao mesmo tempo, humanista, conseguir integrar sucesso com felicidade. Esse é o grande objetivo. Muitas empresas quebram no Brasil porque só valorizam o ser humano, a ambição, o bem-estar, ou o outro lado, tão perigoso quanto: a ambição sem medidas.

Quando você tem uma empresa que só valoriza a competitividade, você terá pessoas que vão acabar sofrendo de estafa e ficando desmotivadas; elas não conseguem continuar trabalhando simplesmente pelo dinheiro, pelo resultado, e essa empresa vai ficar no vazio.

O Guia das 100 Melhores Empresas para se Trabalhar (Editora Abril - Revista Exame) já está ficando mais valorizado do que As 500 Maiores Empresas, porque as pessoas querem trabalhar numa empresa em que se sintam importantes, criando uma contribuição para o mundo, transformando á humanidade, fazendo a diferença. Há uma pesquisa da psicóloga Sofia Esteves, com trainees – que são profissionais ainda na vida acadêmica -, e é interessante que a maior parte desses trainees dizem querer obter sucesso sem destruir suas vidas como seus pais destruíram as deles. Essa moçada de hoje, entre 20 e 24 anos, já tem uma noção de qualidade de vida.

Pensamento cria realidade. Algumas pessoas acreditam que o trabalho traz a infelicidade no amor, e isso acontece porque o pensamento cria matéria. Eu acredito que a espiritualidade pode trazer riqueza material; então, você pode ter a riqueza material junto com a espiritualidade e a riqueza espiritual. Uma não proíbe a outra, e eu vejo que quando as pessoas têm essa consciência, essa consciência, aliada à força, cria a realidade dessas pessoas.

Existe um pessoal que tem o pensamento muito pobre: “Para eu ter dinheiro, eu tenho que abrir mão de tudo, abrir mão de ser um ser humano, ter uma amizade legal com os filhos, ter um casamento e uma família legal”. No sentido da totalidade da vida, eu vejo essas pessoas como as mais pobres que existem, porque pagam um preço muito caro pelo dinheiro. Eu gosto de dinheiro, mas gosto do dinheiro que me dá coisas, não do dinheiro que me tira coisas. O dinheiro que destrói uma família, um casamento, os valores, a espiritualidade, é um dinheiro caro.



Seria isso a noção oriental de prosperidade – o complemento de tudo -, tanto sob o ponto de vista sentimental, mental, espiritual e físico, quanto como conseqüência do bem-estar nas outras áreas da vida?

É. O nome do livro O Sucesso é ser Feliz nasceu quando eu estava dando uma entrevista. Lembro que a jornalista me perguntou quando eu me sentia uma pessoa de sucesso: quando era aplaudido em pé por uma platéia de mil pessoas, ou quando os meus livros estavam entre os dez mais vendidos. Nessa época, eu tinha três livros entre os dez mais vendidos.

Parei para pensar e vi que me sinto uma pessoa de sucesso quando chego em casa e meus filhos me beijam; aí, eu me sinto uma pessoa bem-sucedida. Então respondi: “O sucesso é ser feliz”. Eu acredito que as pessoas precisam entender essa multidimensão do sucesso. Sucesso é ter uma esposa que te ama, filhos que curtem quando você volta para casa, e não aqueles filhos que pensam “meu pai vai voltar, vai brigar, minha mãe vai brigar”. Essa multidimensão do sucesso é legal porque cria felicidade.



Como a espiritualidade pode estar presente nas empresas?

Vou contar uma história que nunca revelei à imprensa. Eu estava em Puna, índia, quando Osho morreu. Isso foi, se eu não me engano, em 19 de janeiro de 1990. Eu era um discípulo apaixonado pelo mestre. Ele foi cremado num ritual bem rústico. No dia seguinte, quando voltei ao local, ainda havia um pouco das brasas da fogueira, e eu fiquei lá um tempo sentado, curtindo a sensação de o mestre ter partido. Quando voltei para o asharam, senti fortemente a presença do meu mestre. Nós conversamos e ele me disse: “Roberto, agora você tem que falar nas empresas para os empresários sobre a felicidade”.

Era interessante porque eu falava dos seres humanos nas organizações, mas não de felicidade. Então fui fazer o que o mestre mandou. É interessante observar o sucesso da minha carreira: ele surgiu quando eu comecei a falar de felicidade nas organizações, porque as empresas estavam precisando. Tenho falado da felicidade durante esses anos e vejo muito desespero. Talvez, o sucesso que eu faço não só no Brasil, mas no mundo, seja porque eu falo de competitividade, de competência, mas vejo que o que eu falo melhor e o que as pessoas escutam mais é quando falo de felicidade, de sentido de vida, de missão. Ou seja, as pessoas, apesar de cansadas, estão iniciando uma longa caminhada para criar empresas como sendo um lugar para poderem se realizar.



Alguns estudiosos afirmam que o individualismo acabou. Aquela coisa do self-made-man chegou ao seu final. O que existiria hoje, na verdade, seria um individualismo positivo, um respeito intenso pelo indivíduo humano. O individualismo, que num momento era uma coisa negativa, hoje se transformou em algo positivo. Como você vê isso?

Se analisarmos as idéias dos pensadores modernos, vamos observar que eles vão tender sempre para uma polaridade. Num certo sentido, a polaridade deles sempre está certa. Esses dias, uma publicitária alemã, que está fazendo sucesso, escreveu um livro sobre a empresa dela chamado Aqui não se tem prazer.

Ela afirma que espírito de equipe é uma bela desculpa para um ficar fazendo corpo mole e deixar o outro trabalhar. Quando ela diz isso, está certa. Agora, se não houver o espírito de equipe e cada um fizer o que der na telha, nada dará certo. Se ficar todo mundo esperando para se tomar uma decisão por consenso, nunca haverá uma decisão. É por isso que a economia japonesa não está andando – porque tudo precisa ser por consenso, e decisão por consenso, quando tomo mundo decide, demora três anos. Resultado: a decisão se torna inútil.

Por exemplo, se você vai fazer uma viagem espiritual, ela é única e exclusivamente individual. Por mais que eu ame meus filhos – e certamente são seres que eu amo ao infinito -, não consigo lhes transmitir um mínimo de sabedoria. Às vezes, eu os vejo fazendo coisas que vão lhes causar sofrimento, mas tenho que abençoar.

E isso não é apologia ao individualismo, essas coisas são individuais mesmo. Agora, se a humanidade não cooperar, seremos extintos mais rápido do que imaginamos. Você precisa estar entre o ying e o yang, qualquer que seja o ying e o yang, É como se o individualismo e o cooperativismo fossem forças dinâmicas se estruturando, e precisam estar no Tao.

Você tem que confiar em Deus para educar seus filhos? Precisa. Então, entregue-os a Deus, mas precisa dar limites; portanto, são as duas coisas ao mesmo tempo. Não é dizer “sim” para tudo. Nem sim para a individualidade, nem sim para o coletivismo; é o Tao – o equilíbrio.

Se alguém me disser que quer entender de empresas, eu vou sugerir que leia o Tao. Se alguém quer ser um empresário de sucesso, eu direi para ler o Tao. Se alguém disser que quer ser um professor, eu direi para ler o Tao.



Existe uma valorização cada vez maior do trabalho voluntário e isso está virando, em algumas empresas, o fator decisório entre contratar ou não um empregado. Isso acaba criando uma ditadura do voluntariado, ou seja, as pessoas podem acabar fazendo trabalho voluntário simplesmente porque, num mercado cada vez mais competitivo, isso passaria a ser uma vantagem. Não seria uma perda do senso de altruísmo? Eu não estaria ajudando ninguém, senão a mim mesmo.

É verdade. Eu tenho uma participação muito grande no movimento do Terceiro Setor no Brasil e vejo que muitas empresas fazem trabalho voluntário porque as pessoas falam que, se a empresa fizer o trabalho voluntário, a sociedade vai ver o produto com bons olhos e quando ela tiver que decidir entre seu produto e o concorrente, vai pegar o seu.

Eu vejo que continuamos, de alguma maneira, não estimulando o amor ao próximo, mas estimulando o egoísmo, que é esse senso do retorno. Quando a empresa investe em projetos sociais puramente movidos pelo marketing, o que acontece? Ela doa dinheiro a um orfanato e, da mesma maneira que corta a verba de publicidade impressa, também corta a verba para o orfanato.

Eu sou muito crítico quando a empresa faz um trabalho de responsabilidade social via departamento de marketing, que é o que muitas das grandes companhias fazem. Não é a empresa que cuida diretamente do assunto. E o dinheiro gasto sai como verba de marketing. Então, quando o marketing decide que é melhor investir numa campanha de televisão do que na entidade X, eles cortam o auxílio financeiro, e isso é desumano.

O outro lado é que pode ser por um caminho errado que as pessoas se conscientizam e acabam amando o próximo, comovendo-se com aquele velhinho, com aquela pessoa com câncer, com aquela criança com Aids, com aquela pessoa cega, porque o outro lado dessa história é que o mundo não tem saída se não for através da solidariedade.

Se nem todos assumirem a gestão do mundo de uma maneira cooperativa, então será preciso que todos participem, ainda que de uma maneira “torta”. Já vimos empresas que entraram para fazer marketing, comoveram-se com a situação e começaram a atuar de uma maneira mais humana. Seria como escrever certo por linhas tortas: o sujeito vai para uma Apae, para colocar no currículo que tem um projeto social, e, de repente, constatamos que ele se apaixonou pela idéia. É como aquele sujeito que sai com uma menina para ter simplesmente alguns momentos de prazer e se apaixona.



O senhor disse que as pessoas ficam focadas nos problemas e nas dificuldades que nascem desses problemas, como se estivessem sintonizadas numa faixa negativa de acontecimentos. Como quebrar esse ciclo?

Esse é o lance importante. De dez conversas que temos hoje, as pessoas sempre vêm falar de problemas. Elas são apegadas aos problemas. Temos que mudar o foco e concentrar as energias na solução.

Respondendo objetivamente: a primeira coisa que precisamos analisar é o tipo de problema que temos em mãos. Se for um problema que se repete, ele deteriora nossa vida e significa que não conseguimos quebrar o círculo vicioso. O único jeito de resolver isso é entender que a pessoa é a causadora do problema e, em seguida, assumir a responsabilidade de estar nesse problema que se repete, e mudar a postura diante da vida.

Se a pessoa me diz que está com uma dificuldade e não consegue resolve-a, existem quatro passos. Primeiro: reconhecer que o problema é um problema – porque há muitas pessoas que têm um problema e acham que não têm. Segundo: pedir a alguém que o conheça para ajudá-lo; ou seja, se a empresa está com dificuldade financeira, deve chamar alguém que entenda disso. Terceiro passo: a pessoa elabora um plano de ação. Quarto: ação.

No Brasil, geralmente negamos o problema, pedimos ajuda de pessoas que não são especialistas, não temos um plano de ação. E, quando fazemos tudo isso, não colocamos a coisa em prática.

Resolver problemas nos deixa fortes, e isso é fundamental. É bom ter problemas, dificuldades. Eles são oportunidades. Há uma frase no meu livro novo que diz “Felicidade não é ausência de problemas; ausência de problemas chama-se tédio. Felicidade são grandes problemas bem administrados”.



O que torna o ser humano um verdadeiro líder consciente?

Eu era responsável pela Cadeira de Liderança numa escola da Espanha chamada Euro Fórum. Lá eu teria três dias de aula para responder a essa pergunta, mas vamos resumi-la.

Todo mundo quer liderar, mas líder é a pessoa que cria no outro o desejo de ser influenciado por ela. Por exemplo, o pai quer influenciar o filho, mas a pergunta é: o filho quer ser influenciado pelo pai? Não, porque o pai não é líder. O chefe quer influenciar os subalternos, mas estes não querem ser influenciados por ele é porque ele não é líder. Ele pode ser o chefe, o patrão, o dono e só por isso manda, mas não é um líder. Ser líder diz respeito à influência sobre a vontade do outro de querer ser influenciado.

Existem vários caminhos para ser líder. Se o profissional é um especialista na sua área, se sabe muito sobre um determinado tema, você o escuta porque ele sabe muito. Você quer a influência dele porque é muito competente.

Você cria no outro o desejo de ser influenciado por você, pelo seu modelo de vida, pela pessoa que você é. E também você quer escutar o outro quando sente que o outro o ama. Se sente que seu pai quer lhe dizer algo porque ele o ama, então você vai escutar seu pai. Mas se você sente que seu pai quer falar porque está interessado em controlá-lo, você não atende.

Para mim, houve um exemplo muito bonito do diplomata Sérgio Vieira de Mello. Ele ficou quatro horas debaixo dos escombros, os bombeiros conseguiam chegar até onde ele estava, mas não tirar os blocos de parede de cima dele. Nas duas primeiras horas, ele orientava os bombeiros para cuidarem desta e daquela pessoa, daquela que tinha diabetes, entre outras. Ele estava morrendo e se preocupava com os outros, que tinham debilidades físicas. Nas duas primeiras horas, ele cuidou da equipe.

Depois, ele pediu que dissessem aos seus filhos que ele gostava muito deles, deixou mensagens para a família. Isso é uma coisa para pensarmos seriamente. Durante aquelas quatro horas, Sérgio não falou de ações, de tirar de uma empresa e colocar em outra. Nessa hora, o líder cuida da equipe, é a história do amor. “Por que eu quero escutar o Sérgio Vieira de Mello? Porque eu sinto que ele se importa comigo, que ele me ama, então eu quero que ele me influencie”. Na hora da morte, as pessoas se importam com a família, com os filhos, com as pessoas que elas sentem que têm algum sentido na vida delas.




OS LIVROS:

O PODER DA SOLUÇÃO: é a mais nova obra de Roberto Shinyashiki. Com 200 páginas, o livro mostra a importância de cultivar os sonhos e aponta caminhos para enfrentar os problemas, aprendendo e crescendo com eles. O livro é acompanhado de um DVD em que o autor dá orientações sobre como lidar melhor com relacionamentos pessoais e profissionais.

VOCÊ: A ALMA DO NEGÓCIO: nesta obra, Roberto Shinyashiki apresenta diversas formas e caminhos que ajudam o leitor a construir uma carreira de sucesso e, conseqüentemente, a ter uma vida plena.

OS DONOS DO FUTURO: o livro aborda, com muita seriedade, as atitudes necessárias para que as pessoas tornem-se vencedoras na vida profissional e pessoal, trabalhando em equipe; sabendo relacionar-se e construindo vinculas pessoais.

O SUCESSO É SER FELIZ: aqui você vai encontrar relatos sobre a importância de ter qualidade de vida para ser feliz. O que é a felicidade? Por que as pessoas desperdiçam suas vidas?

A REVOLUÇÃO DOS CAMPEÕES: segundo Roberto Shinyashiki, A Revolução dos Campeões é um estudo sobre a competência. A arte de oferecer algo sempre melhor por um custo melhor e de uma maneira ética.

SEM MEDO DE VENCER: neste livro, Roberto Shinyashiki analisa as razões pelas quais muitas pessoas não conseguem atingir suas metas profissionais, afetivas e espirituais.

PAIS E FILHOS, COMPANHEIROS DE VIAGEM: ter um filho significa receber uma missão e uma grande oportunidade.

MISTÉRIOS DO CORAÇAO: escrito na forma de uma carta á sua amada, um homem relata suas frustrações e conquistas, seus medos e desejos, sua procura de amor.

AMAR PODE DAR CERTO: em parceria com Eliana Duprê, Roberto Shinyashiki retrata as dores e as delicias de um relacionamento amoroso.

A CARÍCIA ESSENCIAL: com uma linguagem simples, Shinyashiki faz uma análise dos caminhos que as pessoas podem trilhar para demonstrar o amor.

(Extraído da revista Sexto Sentido 46, páginas 24-29)

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