TARO - O ORÁCULO DOS BONS CONSELHOS

Considerado um dos oráculos mais antigos do planeta, o tarô continua sendo uma fonte de sabedoria e uma verdadeira viagem à natureza íntima do ser humano.

Ana Elizabeth Cavalcanti da Costa
É muito comum nos depararmos com situações confusas em que temos de tomar decisões. Em momentos assim, por que não pedir um conselho ao tarô? Seja qual for o seu problema, vale a pena consulta-lo; e você poderá verificar que, além de orienta-lo, ele estará sempre insistindo em seu autoconhecimento, plantando sementes em sua vida.

Uma “nova sabedoria” é a grande necessidade da época em que vivemos. Precisamos de sabedoria para resolver nossos problemas pessoais, para encontrar soluções e respostas criativas para as questões com as quais nos confrontamos diariamente.

O tarô é uma fonte inesgotável de sabedoria. Uma viagem pelas cartas do tarô, considerando um dos mais antigos oráculos do mundo, é uma viagem às nossas profundezas, revelando aspectos do nosso “eu” interior.

A maioria das pessoas que procuram uma consulta de tarô acredita que o futuro pode dar solução para os problemas e conflitos do presente. No entanto, é preciso ter claro que nenhum oráculo do mundo substitui a vida; mas eles podem nos auxiliar, e muito, a perceber e sentir coisas que conscientemente negamos, cabendo a nós a ação.

Se você tem um problema, pode ter certeza de que o tarô vai instiga-lo na tentativa de dissolve-lo. Às vezes, ele nos fala coisas não muito agradáveis, mas o seu objetivo é sempre nosso crescimento pessoal, com toda a carga de sabedoria contida em seus símbolos. Suas cartas nos mostram as nossas energias pessoais, as que nos cercam num determinado momento, e nos aconselham a melhor forma de trilharmos o nosso caminho.

Quando entramos em contato com o tarô, estudando-o ou fazendo uma consulta, passamos a ter mais conhecimento sobre nós, o que nos facilita compreender os acontecimentos que nos cercam. Passamos a escolher com mais sabedoria e aceitamos com mais facilidade situações nas quais nos sentimos num beco sem saída, sem opção de escolha. Sabemos que não podemos prever acontecimentos ou atitudes das pessoas que nos cercam, mas podemos modificar a nossa postura pessoal diante do universo exterior e, dessa forma, tudo o que vem de fora acaba se transformando. Vale a pena lembrar que geralmente projetamos nos outros, de forma inconsciente, as nossas próprias expectativas, qualidades e defeitos.

As cartas do tarô não devem ser vistas como uma declaração de um destino inevitável, porque todo ser humano possui livre-arbítrio. Elas demonstram sempre como o seu futuro, uma situação ou uma relação se desenvolvem caso você continuar agindo da mesma forma.

Muitas vezes, quando mudamos o nosso procedimento, o modo de considerar ou de sentir as coisas e os acontecimentos se modifica naturalmente.



A carta no tarô é chamada de Arcano, do latim Arkanum, significando segredo, e a própria palavra nos mostra o potencial de suas mensagens.

Ao utilizarmos o tarô, nossos segredos inconscientes são revelados e desvendados, mostrando-nos como agir, como pensar e como sentir em determinadas circunstâncias.

Os Arcanos nos dão a impressão de que foram criados no local mais profundo do ser humano, do seu inconsciente, do seu íntimo. Suas figuras e símbolos estão presentes em nossa vida de diversas formas: surgem em nossos sonhos, estimulam-nos à criação e acabam com a nossa lógica. Cada pessoa tem de descobrir o próprio caminho para “absorver” o que os Arcanos dizem, pois são sementes dos nossos “eus não descobertos”.

O Tarô é formado por 78 cartas chamadas Arcanos: 22 maiores e 56 menores. Os 22 Arcanos maiores são expressões das forças e energias que operam no macrocosmo, envolvendo o universo, a sociedade e o ser humano. Os 56 Arcanos menores representam as forças que agem no microcosmo, apenas no ser humano, no nosso dia-a-dia. São divididos em quatro naipes que simbolizam os quatro elementos: paus (fogo), copas (água), espadas (ar) e ouros (terra). São enumeradas de ás a dez, com mais quatro figuras em cada naipe ( rei, rainha, cavaleiro, valete ). Cada naipe representa um elemento.

Por ser uma combinação de símbolos, para estuda-lo é preciso familiarizar-se com a astrologia, cabala, magia e alquimia. Na verdade, quem lê tarô, não é sábio ou adivinho; apenas une os símbolos das cartas e os decifra à luz de seu significado, mais ou menos da mesma forma que juntamos letras para formamos palavras e frases com sentido próprio.

A sua linguagem é profundamente simbólica e, quando é compreendida num plano mais elevado, pode oferecer a chave para os mistérios da existência humana e do universo. O simbolismo contido no tarô faz parte das características da mente humana e acompanha o homem desde os primórdios da humanidade. Chega-se a dizer que podemos passar uma vida inteira estudando um Arcano, tal a sua profundidade filosófica e espiritual.



Na Antiguidade, a ciência era transmitida a uma minoria de homens (iniciados), que eram testados numa série de provas. A transmissão do conhecimento era realizada nos templos, e o sábio era chamado sacerdote. A ciência era velada e oculta ao povo, considerado leigo.

Quando os iniciados perceberam que os conhecimentos poderiam ser perdidos para a humanidade, criaram sociedades secretas, cultos, e passaram a ensinar os grandes mistérios ao povo, de forma inconsciente. Ao expor seus conhecimentos, o iniciado não podia mentir, mas não podia permitir aos não-iniciados que soubessem manejar forças ocultas.

O meio utilizado para ocultar as verdades maiores aos leigos foi a simbologia, costume comum em sociedades secretas. Daí o surgimento do tarô, da linguagem astrológica, numerológica etc.

Portanto, há milhares de anos, os símbolos, lendas, mitos e enigmas têm sido utilizados por sacerdotes ou membros de ordens esotéricas como uma forma de preservar o conhecimento que, no ocultismo, é chamado “Grande Arkanum” ou “Doutrina Secreta”.

A origem do tarô é contada em muitas lendas. Uma delas, divulgada por Papus, conta que, há milhares de anos, o reino do Egito estava seriamente ameaçado a ser destruído por inimigos. Os sacerdotes temiam que todo o conhecimento conquistado ao longo dos anos poderia perder-se para sempre. Os sumos sacerdotes se reuniram a fim de encontrar uma forma de manter o conhecimento e transmiti-lo à humanidade, apesar da provável destruição do reino.

Um dos sacerdotes sugeriu que o conhecimento fosse talhado, com desenhos e símbolos, nos muros e paredes das pirâmides. A idéia não foi aceita, pois com o tempo, paredes e muros se deterioram.

Outro sacerdote sugeriu iniciar nos Grandes Mistérios, dez sacerdotes, que seriam encarregados de transmitir o conhecimento a outros sábios. Um dos sacerdotes foi contra a idéia, argumentando que: “A sabedoria não é um estado duradouro e, muitas vezes, o sábio se torna um tolo. Dessa forma, a estabilidade do nosso conhecimento não estará segura. No entanto, há algo que é estável na humanidade: o vício. Portanto, devemos confiar nossos conhecimentos ao vício. Só assim poderemos ter a certeza de que ele sobreviverá a todas as intempéries e mudanças do tempo”.

A sugestão desse sacerdote foi aceita, e passaram a desenhar todo o conhecimento nas imagens das cartas que, então, foram distribuídas ao povo, que fez do jogo um de seus vícios prediletos. Os sacerdotes acreditavam que, em um determinado período da história, o homem perderia o fascínio pela matéria e, valorizando mais a sua alma, descobriria o conhecimento contido nas cartas.



Existem dúvidas quanto à origem do tarô. Enquanto alguns dizem que nasceu no Egito, outros insistem que veio da Índia, trazidos pelos ciganos. Acredita-se que, devido às Cruzadas e ao comércio com o Oriente, vários elementos filosófico-culturais se misturaram para gerar esse oráculo em sua presente forma.

O primeiro tarô de que se tem notícia foi elaborado em 1392 a pedido de um nobre da corte que queria presentear o Rei de França, Carlos VI, tendo como tema o universo da Idade Média.

Ainda na Idade Média, sofreu influência dos celtas (povo que habitava a França e as ilhas Britânicas) e das lendas e arquétipos da tradição arturiana (com seu universo de druidas, elementais, cruzadas, magos e feiticeiros). Durante a Renascença, foi influenciado pela estrutura filosófica grega.

Diversos baralhos diferentes surgiram na Europa nos séculos subseqüentes, cada um espelhando a cultura local e os elementos da sociedade e da dinastia de cada corte.

Em 1760, Nicolas Conver fundou a Maison Camoin. Seu tarô de Marselha é o mais popular de todos os tempos. Marselha, no sul da França, foi o local em que chegaram novas filosofias e pensamentos que ampliaram os horizontes limitados da Idade Média.

Ainda no século 18, o escritor francês Court Gebelin identificou o tarô como sendo de origem egípcia. Eliphas Lévi (Alphonse Louis Constant), padre católico, filósofo e simbologista, percebeu que os 22 Arcanos maiores do tarô correspondiam ao número de letras do alfabeto hebraico, relacionando-os ao 22 caminhos da Árvore da vida.

O médico francês Gerard Encausse (1865-1917), ou Papus, utilizou o termo “tarô esotérico” para diferenciar um saber tradicional preservado por símbolos, ideogramas e letras, mudando o paradigma da cartomancia vigente na época, em seus livros sobre o tarô: O Tarô dos Boêmios (1889) e O Tarô Adivinhatório (1909).

Arthur Edward Waite (1857-1942) afirmava que o tarô incorporava as representações simbólicas das idéias universais, por trás das quais estão todos os subentendidos da mente humana: “É nesse sentido que o tarô contém a doutrina Secreta, que é a percepção de poucos, das verdades encerradas na consciência de todos, mesmo que elas não tenham sido reconhecidas claramente pelas pessoas comuns. A teoria informa que essa doutrina sempre existiu e que ela surgiu na consciência de uma minoria escolhida, sendo perpetuada em segredo de uma pessoa para outra e registrada em livros secretos, como os de alquimia e de cabala. Acima da chamada Doutrina Secreta existe uma experiência, ou uma prática que a justifica”.

No início do século 20, a psicologia influenciou a elaboração de novas variações do antigo oráculo, com tarôs que incorporaram conscientemente elementos psicológicos. A partir de então, com os novos conhecimentos divulgados por Jung, terapeutas e pesquisadores passaram a adotar uma postura científica em relação ao simbolismo do tarô. O ser Humano passou a entender melhor os fenômenos parapsicológicos e as profundezas da mente e do subconsciente.

Independentemente de qualquer coisa, o tarô ganhando espaço através dos tempos e chegou ao mundo contemporâneo como mais um antigo de consumo. Sabe-se que pessoas das mais variadas idades e profissões utilizam-no de diversas formas. Casas comerciais, revistas e bares fazem uso de suas imagens e dos nomes de suas cartas, introduzindo-as em nosso cotidiano. Nesse emaranhado de usos e abusos, às vezes fica difícil saber onde se encontram os iniciados ou, pelo menos, pessoas que buscam no tarô elementos para uma compreensão mais séria da vida presente, para a decifração do passado ou do futuro. Mas nesse contexto isso talvez não seja o mais importante, porque se ele é uma grande reserva de sabedoria, o simbolismo estará sempre “atento” mesmo quando é utilizado por puro divertimento ou de forma inadequada.



Uma viagem pelas cartas do tarô é uma viagem às nossas profundezas. Estuda-lo é ter compreensão de si mesmo em todas as etapas de nossa vida. A caminhada pelos 22 Arcanos maiores é traçado humano em busca de si próprio.

Somos o Louco, que em alguns tarôs é o número 0 e, em outros, o 22. Ele não possui posição fixa, estando livre para fazer o que desejar, como um curinga do baralho atual.

O primeiro Arcano é o Mago. A própria palavra encera o seu significado: aquele que tem o poder de fazer mágica. Está pronto para executar seus truques. Através dele, a magia do nosso mundo interior pode ser exteriorizada, mostrando que milagres podem acontecer dentro da realidade.

A segunda carta, a Sacerdotisa, simbolizando o arquétipo da Virgem, nos diz que não é adequado agir; é melhor intuir, interiorizar-se.

Os Arcanos 3 e 4, Imperatriz e Imperador, nos falam da mãe e do pai de cada um de nós de dentro de si. Todos nós temos enraizadas as figuras materna, como protetora e paterna, corajosa.

Em seguida, encontramos o Papa (Arcano 5), segundo a Igreja, o representante de Deus na Terra. Estamos agora lidando com as regras da sociedade.

No Arcano número 6, encontramos o Enamorado, a Indecisão. Independentemente de qualquer coisa, ele nos mostra o momento de tomar decisões pessoais, escolher caminhos, e essa atitude provavelmente estará vinculada ao fato de se estar deparando com o amor pelo outro.

No Carro, ou Triunfo (Arcano 7), estamos direcionados a percorrer um determinado caminho. Temos saber conduzi-lo escutando o nosso eu interior, cuidando para não cairmos na ansiedade.

O Arcano 8, Justiça, nos mostra que existe uma balança na qual nossa vida é medida. É a Lei Maior, causa e efeito. Momento de grandes exigências pessoais. A mensagem desse momento é o equilíbrio dos pratos da balança e sabedoria de entender o tempo certo de escolher os frutos.

O Eremita (Arcano 9) nos faz buscar a nós mesmos. Através do recolhimento, encontramo-nos e descobrimos a nossa luz interior.

Em seguida, percebemos que a Roda, da fortuna (Arcano 10) nos leva para cima e para baixo. Nada aqui é definitivo. Tudo pode mudar a qualquer momento. A Roda sempre surge para sinalizar as mudanças importantes que estaremos vivendo.

No Arcano 11, encontramos a Força. Uma mulher que domina um Leão. Fala dos nossos instintos que estão à flor da pele, da nossa necessidade em “marcar” um território em nossa vida pessoal.

O Enforcado, ou Sacrifício (Arcano 12), nos força a uma reflexão, porque estamos presos a algum tipo de situação que nós levará a perceber as coisas de uma outra forma. Encontramo-nos com o nosso eu interior, porque a vida nos imobilizou. Temos de encontrar nossas respostas.

A Morte ou a Imortalidade (Arcano 13); o corte a ser executado é profundo, dolorido, mas tudo o que não vale a pena deve ser retirado. Flores novas nascerão. É necessário morrer para renascer e trabalharmos o nosso apego.

A Temperança (Arcano 14) nos dá um equilíbrio interior, fazendo com a nossa energia esteja aprumada.

O Arcano 15, o Diabo ou a Paixão, nos mostra a paixão, o turbilhão emocional, o mundo material. Ele simboliza o mundo mundano, nossas necessidades relacionadas à matéria e aos prazeres pessoais.

A Torre (Arcano 16), percebemos que tudo o que é construído sem base sólida é destruído. Deve existir uma estrutura para se construir alguma coisa. É preciso aprender a não criar muitas expectativas diante de pessoas ou situações.

Na Estrela ou Esperança (Arcano 17), vemos uma luz no final do túnel, temos esperança em alcançar nossas metas. Raios de luz iluminam o nosso céu.

O Arcano 18, a Lua, enfrentamos cara a cara a nossa própria sombra e as sombras que nos cercam. Então, convivemos com o medo e podemos viver momentos melancólicos, saudosistas.

No Sol (Arcano 19), encontramos a alegria de viver. Demonstra uma energia de calor e iluminação que podem acontecer através de associações com pessoas especiais.

No Arcano 20, a Ressurreição, escutamos as trombetas. Momento de sairmos de nosso sarcófago. Ele nos pede a quebra de padrões, tabus, regras e preconceitos que possam tornar a nossa vida um sarcófago.

No Arcano 21, o Mundo, tudo se fecha e inicia novamente. Representando todas as energias as 78 cartas do tarô, o Mundo nos possibilita a criatividade, o amor e a alegria de viver. Nele voltamos a ser um e inteiros. Vivemos.



Ana Elizabeth é formada em História e Estudos Sociais. Taróloga, é autora de Tarô Sem Mistérios – Interpretando o Tarô Egípcio (Ed. Berkana, 1999) com o artista plástico Rogério Ivan Serra.

Extraído da revista Sexto Sentido, Ano 5 – Número 53

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