O PROJETOR MASCARADO CONTRA O CUSPIDOR DE LACRAIA
(UM CONTO)
"Pois foi assim mesmo como eu digo, Diana... Naquela projeção eu estava sozinha, num lugar frio e deserto, e estava com muito medo de sentir medo, pois sabia que se fizesse isso iria atrair tudo de ruim, como realmente acabei fazendo...
Foi dito e feito: foi só assumir o meu medo que no momento seguinte me apareceu um monstro tão sombrio, uma sombra tão monstruosa, que não tive nem voz pra gritar... Era um vulto dantesco e gigantesco, todo envolto em panos pretos, a face escaveirada cheia de chifres, cornos e pontas... tremo agora, só de pensar... E o pior era a fala, toda vez que aquele demoníaco e satânico ser falava, deixava escapar lacraias e escorpiões da boca maldosa e maléfica, rasgada na face impura... como se fossem pontos, vírgulas, circunflexos e reticências reforçando as blasfêmias e baixezas que ele dizia... E eu ali indefesa, paralisada, enquanto ele fechava suas garras giléticas, enluvadas em manoplas de aço, em torno da minha cintura...
O que eu fiz? Ora, invoquei tudo que é santo, guia, mestre, chorei, berrei... E aí, de repente, não mais que de repente e ninguém sabe de onde, apareceu o mascarado... Alto, elegante, todo de branco em alva armadura... A face semi-oculta por um rico xale persa, que só lhe deixava os olhos à mostra - olhos negros e profundos, cintilando sua profundidade e negror...
O monstro logo o pressentiu e voltou-se para ele, babando suas lacraias. Sem alterar nem um cisco o olhar, o mascarado apenas ergueu um dedo em direção ao vilão. Um rapidíssimo feixe de luz azul precipitou-se então da ponta daquele dedo santo, indo direto à bocarra do monstro, e no segundo seguinte já não havia mais monstro, nem nada.
Ficamos sós, eu e meu salvador. Trêmula, só pensava, só queria e não sabia como agradecer ao guerreiro mascarado, e juro, Diana, que naquele momento eu faria qualquer coisa que ele me pedisse...
Sob seu olhar dominador, tentei meio inutilmente recompor meu roupão, rasgado pelas unhas-navalha do cospe-lacraias...
Mas então, num arroubo e num repente decidi não me cobrir e apenas esperei que o belo mascarado viesse buscar seu merecido prêmio. Ah, eu saberia recompensá-lo...
Mas suas ações revelaram uma nobreza ainda maior, pois em vez disto simplesmente acenou-me com a cabeça, despedindo-se, e partiu, voando graciosamente.
E assim, lá fiquei, sozinha como no começo, a recompor meus cacos de dignidade e a pensar em que lição poderia eu tirar daquela experiência.
E quando estava quase chegando à conclusão de que muito mais importante do que a satisfação dos vis desejos humanos é a beata plenitude da retidão espiritual, vi um pequeno enxame de negros insetos escuros, bailando no ar como vaga-lumes sem luz: era a gargalhada do monstrengo fulminado, que, escondido atrás de uma pedra, ria-se escandalosamente da minha frustração..."
- Bene -
"Pois foi assim mesmo como eu digo, Diana... Naquela projeção eu estava sozinha, num lugar frio e deserto, e estava com muito medo de sentir medo, pois sabia que se fizesse isso iria atrair tudo de ruim, como realmente acabei fazendo...
Foi dito e feito: foi só assumir o meu medo que no momento seguinte me apareceu um monstro tão sombrio, uma sombra tão monstruosa, que não tive nem voz pra gritar... Era um vulto dantesco e gigantesco, todo envolto em panos pretos, a face escaveirada cheia de chifres, cornos e pontas... tremo agora, só de pensar... E o pior era a fala, toda vez que aquele demoníaco e satânico ser falava, deixava escapar lacraias e escorpiões da boca maldosa e maléfica, rasgada na face impura... como se fossem pontos, vírgulas, circunflexos e reticências reforçando as blasfêmias e baixezas que ele dizia... E eu ali indefesa, paralisada, enquanto ele fechava suas garras giléticas, enluvadas em manoplas de aço, em torno da minha cintura...
O que eu fiz? Ora, invoquei tudo que é santo, guia, mestre, chorei, berrei... E aí, de repente, não mais que de repente e ninguém sabe de onde, apareceu o mascarado... Alto, elegante, todo de branco em alva armadura... A face semi-oculta por um rico xale persa, que só lhe deixava os olhos à mostra - olhos negros e profundos, cintilando sua profundidade e negror...
O monstro logo o pressentiu e voltou-se para ele, babando suas lacraias. Sem alterar nem um cisco o olhar, o mascarado apenas ergueu um dedo em direção ao vilão. Um rapidíssimo feixe de luz azul precipitou-se então da ponta daquele dedo santo, indo direto à bocarra do monstro, e no segundo seguinte já não havia mais monstro, nem nada.
Ficamos sós, eu e meu salvador. Trêmula, só pensava, só queria e não sabia como agradecer ao guerreiro mascarado, e juro, Diana, que naquele momento eu faria qualquer coisa que ele me pedisse...
Sob seu olhar dominador, tentei meio inutilmente recompor meu roupão, rasgado pelas unhas-navalha do cospe-lacraias...
Mas então, num arroubo e num repente decidi não me cobrir e apenas esperei que o belo mascarado viesse buscar seu merecido prêmio. Ah, eu saberia recompensá-lo...
Mas suas ações revelaram uma nobreza ainda maior, pois em vez disto simplesmente acenou-me com a cabeça, despedindo-se, e partiu, voando graciosamente.
E assim, lá fiquei, sozinha como no começo, a recompor meus cacos de dignidade e a pensar em que lição poderia eu tirar daquela experiência.
E quando estava quase chegando à conclusão de que muito mais importante do que a satisfação dos vis desejos humanos é a beata plenitude da retidão espiritual, vi um pequeno enxame de negros insetos escuros, bailando no ar como vaga-lumes sem luz: era a gargalhada do monstrengo fulminado, que, escondido atrás de uma pedra, ria-se escandalosamente da minha frustração..."
- Bene -