A FACE DE GHANDI

Centenas de turistas se aglomeravam para ver o lugar onde Ghandi fora assassinado. A chuva fina de agosto era cenário perfeito para que o guia explicasse com tristeza na voz, como e quando ocorreu o trágico evento que retirou do mundo esse homem.

Indianos e turistas de toda parte do mundo olhavam com atenção cada detalhe do lugar e ouviam a explicação do guia como se pudessem sentir, mesmo que por um instante, a figura de Ghandi naquele lugar.
- Essa flor nesse lugar representa esse fantástico homem que mudou a história desse país - dizia o guia - E é possível senti-lo por aqui e refletir sobre o seu trabalho no mundo.

O lugar era tão bonito, tanto quanto as palavras do guia, mas discordei calado: afinal não sentia a presença dele ali, e sim em cada criança sorrindo com os pés descalços na lama; criança com a mão segura pela mãe de sari brilhante e olhar cansado, que segue o marido, que por sua vez olha meio desconfiado para aquele rapaz que parece indiano, mas que age como estrangeiro.

Queria poder lhe explicar que nem sou indiano nem sou estrangeiro; mas fico calado, enquanto observo com o meu bloco de notas na mão o moleque sorrindo para meu rosto tão estranho e ao mesmo tempo tão conhecido.

Ghandi estava ali com ele.

Ghandi estava com ele, muito mais do que no memorial que fizeram para ele ou nas cédulas de rúpias que andam de mãos em mãos, de bolso em bolso indianos; ou nas fotos que todas as pessoas e políticos famosos tiraram ao seu lado e que são expostas no mundo inteiro como se a pessoa sorridente ao lado daquele homem franzino realmente o conhecesse a fundo e compartilhasse da mesma virtude que o fez tão querido; mas arrisco a dizer que ninguém o conhecera tanto quanto o povo sofredor, que se sentia mais gente ao vê-lo passar, porque ele os via como eles são de verdade: seus semelhantes.

Ghandi nunca morreu, e ele ainda se encontra nas ruas da Índia e do mundo, estampado no rosto do povo como esperança de que um dia o mundo seja uma única nação, sem castas e sem donos, compartilhando a única terra onde não existem fronteiras: a Terra da Compaixão.

- Frank -


- Nota: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores, que atualmente mora em Londres. Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos. Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista on line de nosso site, e em nossa seção de textos projetivos e espiritualistas em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. Atualmente ele se encontra em viagem pela Índia e pelo Nepal, e de lá envia os seus relatos e textos compartilhando suas vivências e observações.

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