25 - RISADA ESPIRITUAL
Em minha trajetória pela vida, tenho visto muitas dores e muito sofrimento. Meu coração sente a dor dos semelhantes e se angustia por eles. Dolorido, clamo aos céus que me dêem uma explicação plausível do porquê de tanto drama na Terra.
Sangrado pelo meu sofrimento e pelo dos outros, mergulho em depressão. Sinto a dor do mundo lancetar meu peito como um aguilhão invisível. Porém, repentinamente, sou invadido por uma intuição, vinda de não sei onde, que me diz que as coisas nem sempre são o que aparentam ser e que, por trás das ilusões humanas, existe uma espécie de "limpador de pára-brisa espiritual", pronto para limpar os respingos de sujeira que salpicam a alma humana.
Há nessa voz intuitiva, um quê de sorriso matreiro que me faz lembrar de um certo amigo que já partiu dessas bandas terrestres há muito tempo. E, ao pensar nisso, escuto claramente uma risada gostosa do meu lado. Por incrível que pareça, não fico assustado por alguém invisível rir ao meu lado. Pelo contrário, sou contagiado por este riso gostoso que me invade a alma.
E, de repente, sinto-me inundado por uma torrente de imagens e idéias. Vejo passar perante meu olhar interior uma série de situações humanas. Vejo gente nascendo e morrendo. Mas vejo, também, gente morrendo e vivendo além da morte, em algum lugar que não sei precisar onde é, mas sei que é por aí, em alguma dessas tantas dimensões de vida que Deus criou.
Meu olhar interior vai se ampliando e eu começo a perceber que o sofrimento e a dor são transitórios. Sinto que além, muito além do meu entendimento, está operando um poder cósmico que sabe tudo a respeito de todos e que por isso, sabe o que é melhor para o crescimento evolutivo de cada um. E, mais ainda, sinto claramente, em algum compartimento oculto do meu ser, que uma parte de mim (seria um "eu interior"?) compreende isso tudo, de uma maneira que não sei explicar. Nisso, vai brotando em mim uma alegria irresistível e sinto firmemente que há vida em todas as coisas; que o amor supera tudo; que o sofrimento é efêmero e todos somos eternos. E sou tomado então, por uma risada gostosíssima, como a risada daquele sujeito invisível que continua rindo aqui do lado.
Sigo rindo, rindo, rindo... porque sei agora, que a morte é uma piada, mortal, sem dúvida, mas é piada sim! Afinal, ela não mata ninguém mesmo, só desveste o espírito de seu "casulo de carne", ou, melhor diria de seu "presunto".
Súbito, no meio dessa alegria e compreensão espiritual pela qual estou possuído nesse momento, percebo claramente quem é o dono da risada invisível aqui ao meu lado. É o João Grandão, o amigo mais sacana que já tive e que partiu para o além alguns anos atrás, num estúpido acidente de carro.
Como é que eu não reconheci essa risada? E a sua presença espiritual me comprova aquela certeza intuitiva de que estou imbuído no momento: a morte não muda ninguém! Isso é líquido e certo, pois não mudou nem mesmo a risada do João.
E pensar que eu chorei tanto em seu enterro e o sacana já estava rindo do outro lado da vida, talvez até aprontando alguma de suas brincadeiras com algum desencarnado por aí! Enterrei o corpo do João, mas não a sua alegria. Doravante, quando meu coração sangrar novamente pelo sofrimento da humanidade, eu me lembrarei da risada do João e tentarei olhar o drama humano com outros olhos. A sua risada gostosa será a minha inspiração de agora em diante. Talvez com uma risada franca, estampada na cara, eu consiga dissolver as angústias de muita gente. Ou, se isso não der certo, quem sabe a leitura desses escritos não consiga fazer as pessoas soltarem o maxilar em uma gostosa "risada-terapêutica-espiritual-evolutiva"?
Inclusive, essa risada se perpetuará por aí, pois também estou deixando aqui na Terra a carcaça velha de guerra e me juntarei ao João no mundo espiritual.
E então, sairemos os dois rindo, por aí...
- Cia. do Amor -
(A Turma dos Poetas em Flor)
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges, Caxias do Sul, 08/04/94)
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Texto <25><22/06/1998>