O QUE É OBSESSÃO
O estudo das obsessões se faz cada vez mais necessário no meio espírita, para que não hajam distorções que prejudiquem os pacientes que procuram o espiritismo quase sempre em desespero.
Dr. Wilson Ferreira de Melo
Associação Médico-Espírita de São Paulo
Dr. Wilson Ferreira de Melo
Associação Médico-Espírita de São Paulo
Este é um estudo metódico das obsessões, capítulo novo da Psiquiatria, encarado do ponto do ponto de vista da doutrina espírita.
Diante das doenças nervosas e mentais, em franca expansão na atualidade, temos que diferenciar:
- Doenças nervosas e mentais de causa orgânica, pertencentes ao campo da Neurologia.
- As doenças nervosas e mentais de causa orgânica, pertencentes ao campo da Psiquiatria.
- As doenças nervosas e mentais sem causa orgânica.
No campo da Neurologia temos os fatores que atingem a estrutura do sistema nervoso, tais como as infecções, as formações tumorais, os acidentes vasculares, os traumatismos etc.
Ao campo da Psiquiatria, os distúrbios provocados por agentes agressores do sistema nervoso, verificados na uremia, nos focos infecciosos, nas intoxicações de várias naturezas, nas toxicomanias, no alcoolismo, nos distúrbios metabólicos etc.
Às doenças nervosas e mentais sem causa orgânica damos o nome genérico de obsessão, que podemos dividir em auto e hetero-obsessão.
O paciente apresenta estado mental doentio, idéia fixa em alguma coisa, manias, cacoetes, atitudes estranhas, recalques, complexos diversos, delírios e alucinações. Aqui, é o paciente o responsável por toda a sintomatologia e as causas residem nas dificuldades da vida, na educação mal conduzida, nas influências do meio ambiente, nos estados de desnutrição, nos distúrbios emocionais e, sobretudo, nas causas anteriores, de vidas passadas, gravadas no arquétipo do paciente, que se acha lesado ou dessintonizado. O perispírito é o corpo do espírito, o que lhe dá a forma humana e que grava indelevelmente todos os atos e pensamentos do ser humano. Na união com o corpo, no processo da reencarnação, todas as falhas do perispírito tendem a exercer influência mais ou menos acentuada, tanto na área psíquica como física do paciente. Comumente agem como fatores desencadeantes o remorso ou a falta de ambientação á nova vida e a não-aceitação da personalidade atual. Inconscientemente há retorno ao passado, cujos aconteciment
os se acham arquivados no perispírito e a vivência deste passado, que se torna presente, leva com freqüência ao isolamento, ao autismo e a um tipo de vida em .desacordo com o habitual do paciente. Várias entidades nosológicas da Psiquiatria atual se acham enquadradas nesse item.
HETERO-OBSESSÃO
Caracterizada pela ação persistente que um espírito desequilibrado exerce sobre o indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até perturbação completa das faculdades mentais. Intimamente ligada à imperfeição moral, que facilita a ação do espírito, em geral, sequioso de vingança e cheio de ódio, devido a ação delituosa que sobre ele exerceu o paciente, no pretérito.
Há obsessores que atuam sem justa causa, pelo simples prazer em fazer o mal. Outros, procuram desviar as criaturas das grandes tarefas em prol da humanidade, desde que os seus interesses se acham ameaçados pela idéia que elas representam.
Na obsessão, há escravização do pensamento por parte do obsessor. Ele não se apossa do corpo do obsedado. Atua sutilmente sobre a sua vontade, usando técnicas semelhantes à dos hipnotizadores.
Apesar de não ter, de início, causa orgânica, a obsessão crônica pode ocasionar sérios distúrbios na área física, inclusive lesões irreparáveis. A sintomatologia apresentada pelos obsedados é a mesma descrita nos tratados de Psiquiatria e abrange grande parte das entidades nosológicas da classificação psiquiátrica. O espírito obsessor usa os elementos contidos na mente do obsedado e os desencadeia para que determinem um comportamento anômalo e ostensivo.
Para o estudo do mecanismo do processo obsessivo, ver A Gênese, de Allan Kardec, capítulo dos Fluidos.
Clinicamente é difícil o diagnóstico diferencial entre auto e hetero-obsessão, mesmo porque a atuação do espírito do obsedado é sempre existente e continua mesmo após a cessação do processo obsessivo. A não ser que o médico ou o encarregado do atendimento ao paciente tenha mediunidade intuitiva ou vidência bem desenvolvida, mister se faz uma consulta ao plano espiritual, através de um médium de confiança. O dr. Inácio Ferreira, diretor do Sanatório Espírita de Uberaba, em sua obra Novos Rumos à Medicina, 1° volume, traz comovente dedicatória a Maria Modesto Cravo, a grande médium que o auxiliou durante vários anos, no diagnóstico e tratamento das obsessões.
O processo obsessivo, sendo sobretudo, processo hipnótico, não guarda estrita relação com a mediunidade. Sendo porém, esta mal orientada e em pessoas de maus costumes e de baixa moral, o campo de ação do obsessor se acha facilitado (Ver KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 243).
O estado de saúde física e psíquica faz com que o paciente ceda ao ataque da entidade obsessora. Os desequilíbrios orgânicos ou de ordem moral ou emocional, quebram as barreiras defensivas. Daí a necessidade de acompanhamento médico e psicológico durante todo o decurso da obsessão, quer auto ou hetero-obsessão.
A hetero-obsessão, segundo o grau de constrangimento e a natureza dos efeitos que produz, pode ser dividida em obsessão simples, fascinação e subjugação.
OS TIPOS DE OBSESSÃO
Caracterizada pela tenacidade de um espírito que exerce ação sobre uma pessoa que dele não consegue desembaraçar-se. Na fascinação, há ação direta do espírito sobre o pensamento do paciente, paralisando-lhe o raciocínio e impondo-lhe a sua vontade. Na subjugação, o domínio sobre a vontade é completa,. constritiva e o paciente age a seu mau grado.
Costuma-se chamar hetero-obsessão a ação dominadora que os mortos exercem sobre os vivos. Temos observado, no entanto, que a ação também se pode fazer dos vivos sobre os vivos, dos vivos sobre os mortos, dos mortos sobre os mortos e também reciprocamente, isto é do obsessor sobre o obsedado e sobre o obsessor.
O estudo das obsessões se faz cada vez mais necessário no meio espírita, para que não hajam distorções que prejudiquem os pacientes que procuram o espiritismo quase sempre em desespero de causa. O médico deve sempre ser procurado para julgar os distúrbios orgânicos, ou de ordem emocional, que atingem os pacientes durante todo o processo obsessivo. O que não deve o médico, é se opor formalmente à nova interpretação das doenças mentais e à terapêutica espiritual que vem sendo empregada.
Lembremos o que fala o dr. Inácio Ferreira à pág. 62 do primeiro volume de Novos Rumos à Medicina. "Nós, como médico e como espírita que investiga, dizemos que ela, a medicina, é a missionária oficial de um poder Supremo para amparar o espírito; porém, não aceitando o oferecimento que lhe faz, oferecimento baseado em milhares de provas e documentações, jamais estará apta a galgar os obstáculos que constantemente se opõem no seu caminho. O maior erro da medicina oficial terrena é julgar que o túmulo é a última etapa dos seus esforços".
Do plano espiritual, através da sábia palavra de Emmanuel, aprendemos que "a medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades superiores, constitui nobre missão espiritual".
"O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem, é um Apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a devida assistência e inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na vida".- (Emmanuel, O Consolador, item 94).
Se a medicina moderna, que é psicossomática, admite a interferência dos estados nervosos em todas as latitudes da organização física do indivíduo, porque não admitir, mesmo como hipótese, que por trás de todas as manifestações do pensamento humano está o espírito imortal.- Só então ela compreenderá o grande ensinamento: "As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico" (Emmanuel, O Consolador, item 96).
A lei da reencarnação, das vidas sucessivas, coloca os seres humanos a par de sua real situação e lhes faz antever um futuro melhor, mais promissor, apesar de todas as suas angústias e desesperos. "Se a medicina lança mão dos recursos terapêuticos para levar o alimento necessário à matéria que se consome e se tortura, o espiritismo se ampara numa terapêutica muito mais sublime que é a terapêutica da esperança em dias melhores, do perdão que eleva, da certeza que consola, e da resignação que ampara e fortalece o espírito na trajetória que é obrigado a palmilhar". (FERREIRA, Inácio dr., Espiritismo e Medicina, pág. 28).
No futuro, na era da medicina espiritualista e espiritualizada, o lema será o mesmo de Miguel Couto, o inolvidável mestre: "Clinicar é sinônimo de sofrer. Onde estiver o homem padecendo, está ao lado a medicina aliviando, consolando, mitigando... e padecendo, como mãe carinhosa".
OBSESSÃO
“Cobrança que bate às portas da alma, é um processo bilateral. Faz-se presente porque existe de um lado o cobrador, sequioso de vingança, sentindo-se ferido e injustiçado, e de outro o devedor, trazendo impressas no seu perispírito as matrizes da ; culpa, do remorso ou do ódio que não se extinguiu”.
(SCHUBERT, Sueli Caldas. Obsessão, Desobsessão, pág. 31).
TRATAMENTO DAS AUTO-OBSESSÕES
Aqui, todo o arsenal terapêutico é dirigido diretamente ao paciente, que é autor dos seus desequilíbrios. Ao lado das medidas de ordem clínica, visando o equilíbrio orgânico, são empregados, segundo as características racionais e sintomatológicas dos pacientes:
Quimioterapia: uso de sedativos, antidepressivos e medicamentos de ação central.
Eletrochoques: muito raramente, nos casos de difícil remissão (estados catatônicos) ou de extrema resistência à quimioterapia.
Psicoterapia: segundo as técnicas usuais, de escolha do terapeuta, aliada sempre que possível à noção de reencarnação.
Psicanálise profunda: calcada na reencarnação.
Hipnose médica: com regressão da memória, se possível, às vidas anteriores.
Fluidoterapia: passes magnéticos e água fluidificada.
Prece: como elemento regularizador das vibrações perispíriticas, ao mesmo tempo que cria um ambiente harmônico em tomo do paciente.
Terapia ocupacional: manter o paciente ocupado em um trabalho que o atraia, de modo a mantê-lo afastado de seus pensamentos doentios.
Ludoterapia: divertimentos sadios e cultivo de ginástica, natação e outros tipos de exercício.
Musicoterapia: o senso musical talvez seja o último que o doente mental perde e deve ser cultivado com muito carinho (audições musicais, bandas nas clínicas ou hospitais, deixar que o paciente toque o instrumento que lhe agrade e incentivá-lo nesse sentido).
Reeducação: através de contatos freqüentes com assistentes sociais, palestras educativas, convivência com outras pessoas, evangelização etc.
Medidas gerais: incentivar o paciente a imprimir uma direção construtiva ao seu pensamento, para isto empregando a sua força de vontade, que aos poucos vai se desenvolvendo. Dar-lhe noções de caridade, no seu verdadeiro sentido evangélico, isto é, ser benevolente, indulgente para com as imperfeições dos outros e perdoar as ofensas que lhe forem feitas, principalmente no ambiente familiar. Orientar a família do paciente, no sentido de lhe dar toda a cobertura possível, dentro das suas reais necessidades. Aconselhar o Culto do Evangelho no Lar, que servirá de força unificadora e harmonizadora.
TRATAMENTO DAS HETERO-OBSESSÕES
Ao lado de toda a terapia usada nas auto-obsessões, empregar a desobsessão, que é a doutrinação da entidade ou entidades espirituais que estão atuando como obsessoras.
Extremamente delicado, o processo desobsessivo exige a formação de grupos especializados, com médiuns bem desenvolvidos e moralizados e dirigentes capacitados. Uma equipe de desobsessão, além do doutrinador culto e moralizado, necessita de médiuns psicofônicos, videntes e passistas e a cobertura de assistentes doadores de fluidos, não devendo o número total ultrapassar 15 pessoas. Há também a reunião privativa, que só excepcionalmente receberá visitantes. Os pacientes obsedados estarão ausentes da reunião e a ela estarão presentes somente por ordem do plano espiritual.
O grupo ideal é aquele constituído de pessoas amigas, realmente fraternas e que exerçam as suas atribuições com amor e desvelo. Para os componentes do grupo, e principalmente para o doutrinador, é recomendado o estudo da obra de Hermínio C. Miranda, Diálogo com as Sombras.
Para que haja tratamento eficiente, são exigidas condições por parte do paciente, da família do paciente e do dirigente.
Por parte do paciente, é preciso que ele deseje a cura e siga o tratamento. As terapias de apoio são dirigidas no sentido de despertá-lo para as suas potencialidades. É preciso ter paciência e aguardar os resultados do tratamento, que via de regra é longo.
Por parte da família, faz-se necessário compreender os problemas do paciente, colaborar com o terapêuta, fazer executar os métodos indicados e aguardar com paciência os resultados. Não esquecer que a harmonização no lar é fator de suma importância.
Por parte do dirigente, são necessários conhecimentos técnicos, elevação moral e as seguintes qualidades imprescindíveis:
- Imprimir direção sadia ao que faz, ao que pensa e ao que realiza.
- Possuir elevação moral e de sentimentos, sabendo dominar as suas emoções.
- Ver o paciente como companheiro.
- Ter o desejo real de ajudar o paciente a resolver os seus problemas.
- Envolver o paciente em seus fluidos.
- Aprimorar o senso intuitivo e usá-lo com discernimento.
- Não se descartar do paciente.
No grupo de desobsessão, além dos médiuns, do dirigente e dos doadores de fluidos, devemos acrescentar os orientadores espirituais, os eventuais manifestantes e o obsessor ou obsessores. As reuniões são sempre precedidas de leitura evangélica e de prece. Todos os assistentes devem levar vida sadia, tanto moral como fisicamente. Abster-se de carne, álcool, fumo, pelo menos no dia das reuniões. Usar a máxima vigilância no seu comportamento, para que não se vejam envolvidos nas mesmas tramas obsessivas dos pacientes obsedados.
Iniciada a reunião, com absoluto silêncio e concentração de todos os assistentes, começa a manifestação das entidades espirituais, primeiro o dirigente espiritual encarregado do trabalho, que orienta, o seguimento da reunião e dá os informes e conselhos necessários. Manifestando-se o obsessor, o dirigente encarnado trava diálogo com ele, doutrinando-o no sentido da compreensão dos seus deveres como filho de Deus e como espírito imortal sujeito às leis da evolução. Para que haja boa doutrinação, o dirigente precisa:
- Ter profundo conhecimento da Doutrina Espírita.
- Ter facilidade na condução da conversa, não demonstrando parcialidade no modo de encarar o obsessor e o obsedado.
- Deixar o espírito falar sempre que possível.
- Não perder a paciência
- Usar compreensão e amor.
- Conduzir a doutrinação de acordo com as características do obsessor, evitando do princípio a pregação moral.
- Fazer-se amigo do obsessor, através da compreensão dos seus problemas.
- Mostrar que, se ele é vítima, também é agressor.
- Costuma ser de excelente resultado a reconstituição do passado do obsessor, desde que feito com muita delicadeza e oportunidade.
- No decurso da doutrinação, as vezes se faz necessário dar passe reconfortador na entidade manifestante, o que é feito estendendo-se as mãos sobre a cabeça do médium.
- A prece é de suma importância no decorrer da sessão e os assistentes deverão permanecer no que se pode chamar de estado de prece.
Doutrinado o obsessor, que reconheceu o seu erro e se propôs a mudar de procedimento, resta ainda o obsedado, que carrega dentro de si todo um passado de delinqüência e de desvios m orais. Ele é então submetido aos tratamentos indicados nas auto-obsessões.
Quando o paciente tem ardente desejo de modificação interior, para isso empregando todos os esforços, ele próprio vence a sua obsessor.
A própria reencarnação já é processo de desobsessão, dada a barreira vibratória existente entre os dois mundos, o material (terreno) e o espiritual e também - a barreira corpórea oposta ação dos Espíritos.
Para saber mais:
O Livros dos Médiuns - Allan Kardec
Dramas da Obsessão - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 01, páginas 16-21)
Diante das doenças nervosas e mentais, em franca expansão na atualidade, temos que diferenciar:
- Doenças nervosas e mentais de causa orgânica, pertencentes ao campo da Neurologia.
- As doenças nervosas e mentais de causa orgânica, pertencentes ao campo da Psiquiatria.
- As doenças nervosas e mentais sem causa orgânica.
No campo da Neurologia temos os fatores que atingem a estrutura do sistema nervoso, tais como as infecções, as formações tumorais, os acidentes vasculares, os traumatismos etc.
Ao campo da Psiquiatria, os distúrbios provocados por agentes agressores do sistema nervoso, verificados na uremia, nos focos infecciosos, nas intoxicações de várias naturezas, nas toxicomanias, no alcoolismo, nos distúrbios metabólicos etc.
Às doenças nervosas e mentais sem causa orgânica damos o nome genérico de obsessão, que podemos dividir em auto e hetero-obsessão.
O paciente apresenta estado mental doentio, idéia fixa em alguma coisa, manias, cacoetes, atitudes estranhas, recalques, complexos diversos, delírios e alucinações. Aqui, é o paciente o responsável por toda a sintomatologia e as causas residem nas dificuldades da vida, na educação mal conduzida, nas influências do meio ambiente, nos estados de desnutrição, nos distúrbios emocionais e, sobretudo, nas causas anteriores, de vidas passadas, gravadas no arquétipo do paciente, que se acha lesado ou dessintonizado. O perispírito é o corpo do espírito, o que lhe dá a forma humana e que grava indelevelmente todos os atos e pensamentos do ser humano. Na união com o corpo, no processo da reencarnação, todas as falhas do perispírito tendem a exercer influência mais ou menos acentuada, tanto na área psíquica como física do paciente. Comumente agem como fatores desencadeantes o remorso ou a falta de ambientação á nova vida e a não-aceitação da personalidade atual. Inconscientemente há retorno ao passado, cujos aconteciment
os se acham arquivados no perispírito e a vivência deste passado, que se torna presente, leva com freqüência ao isolamento, ao autismo e a um tipo de vida em .desacordo com o habitual do paciente. Várias entidades nosológicas da Psiquiatria atual se acham enquadradas nesse item.
HETERO-OBSESSÃO
Caracterizada pela ação persistente que um espírito desequilibrado exerce sobre o indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até perturbação completa das faculdades mentais. Intimamente ligada à imperfeição moral, que facilita a ação do espírito, em geral, sequioso de vingança e cheio de ódio, devido a ação delituosa que sobre ele exerceu o paciente, no pretérito.
Há obsessores que atuam sem justa causa, pelo simples prazer em fazer o mal. Outros, procuram desviar as criaturas das grandes tarefas em prol da humanidade, desde que os seus interesses se acham ameaçados pela idéia que elas representam.
Na obsessão, há escravização do pensamento por parte do obsessor. Ele não se apossa do corpo do obsedado. Atua sutilmente sobre a sua vontade, usando técnicas semelhantes à dos hipnotizadores.
Apesar de não ter, de início, causa orgânica, a obsessão crônica pode ocasionar sérios distúrbios na área física, inclusive lesões irreparáveis. A sintomatologia apresentada pelos obsedados é a mesma descrita nos tratados de Psiquiatria e abrange grande parte das entidades nosológicas da classificação psiquiátrica. O espírito obsessor usa os elementos contidos na mente do obsedado e os desencadeia para que determinem um comportamento anômalo e ostensivo.
Para o estudo do mecanismo do processo obsessivo, ver A Gênese, de Allan Kardec, capítulo dos Fluidos.
Clinicamente é difícil o diagnóstico diferencial entre auto e hetero-obsessão, mesmo porque a atuação do espírito do obsedado é sempre existente e continua mesmo após a cessação do processo obsessivo. A não ser que o médico ou o encarregado do atendimento ao paciente tenha mediunidade intuitiva ou vidência bem desenvolvida, mister se faz uma consulta ao plano espiritual, através de um médium de confiança. O dr. Inácio Ferreira, diretor do Sanatório Espírita de Uberaba, em sua obra Novos Rumos à Medicina, 1° volume, traz comovente dedicatória a Maria Modesto Cravo, a grande médium que o auxiliou durante vários anos, no diagnóstico e tratamento das obsessões.
O processo obsessivo, sendo sobretudo, processo hipnótico, não guarda estrita relação com a mediunidade. Sendo porém, esta mal orientada e em pessoas de maus costumes e de baixa moral, o campo de ação do obsessor se acha facilitado (Ver KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 243).
O estado de saúde física e psíquica faz com que o paciente ceda ao ataque da entidade obsessora. Os desequilíbrios orgânicos ou de ordem moral ou emocional, quebram as barreiras defensivas. Daí a necessidade de acompanhamento médico e psicológico durante todo o decurso da obsessão, quer auto ou hetero-obsessão.
A hetero-obsessão, segundo o grau de constrangimento e a natureza dos efeitos que produz, pode ser dividida em obsessão simples, fascinação e subjugação.
OS TIPOS DE OBSESSÃO
Caracterizada pela tenacidade de um espírito que exerce ação sobre uma pessoa que dele não consegue desembaraçar-se. Na fascinação, há ação direta do espírito sobre o pensamento do paciente, paralisando-lhe o raciocínio e impondo-lhe a sua vontade. Na subjugação, o domínio sobre a vontade é completa,. constritiva e o paciente age a seu mau grado.
Costuma-se chamar hetero-obsessão a ação dominadora que os mortos exercem sobre os vivos. Temos observado, no entanto, que a ação também se pode fazer dos vivos sobre os vivos, dos vivos sobre os mortos, dos mortos sobre os mortos e também reciprocamente, isto é do obsessor sobre o obsedado e sobre o obsessor.
O estudo das obsessões se faz cada vez mais necessário no meio espírita, para que não hajam distorções que prejudiquem os pacientes que procuram o espiritismo quase sempre em desespero de causa. O médico deve sempre ser procurado para julgar os distúrbios orgânicos, ou de ordem emocional, que atingem os pacientes durante todo o processo obsessivo. O que não deve o médico, é se opor formalmente à nova interpretação das doenças mentais e à terapêutica espiritual que vem sendo empregada.
Lembremos o que fala o dr. Inácio Ferreira à pág. 62 do primeiro volume de Novos Rumos à Medicina. "Nós, como médico e como espírita que investiga, dizemos que ela, a medicina, é a missionária oficial de um poder Supremo para amparar o espírito; porém, não aceitando o oferecimento que lhe faz, oferecimento baseado em milhares de provas e documentações, jamais estará apta a galgar os obstáculos que constantemente se opõem no seu caminho. O maior erro da medicina oficial terrena é julgar que o túmulo é a última etapa dos seus esforços".
Do plano espiritual, através da sábia palavra de Emmanuel, aprendemos que "a medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades superiores, constitui nobre missão espiritual".
"O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem, é um Apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a devida assistência e inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na vida".- (Emmanuel, O Consolador, item 94).
Se a medicina moderna, que é psicossomática, admite a interferência dos estados nervosos em todas as latitudes da organização física do indivíduo, porque não admitir, mesmo como hipótese, que por trás de todas as manifestações do pensamento humano está o espírito imortal.- Só então ela compreenderá o grande ensinamento: "As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico" (Emmanuel, O Consolador, item 96).
A lei da reencarnação, das vidas sucessivas, coloca os seres humanos a par de sua real situação e lhes faz antever um futuro melhor, mais promissor, apesar de todas as suas angústias e desesperos. "Se a medicina lança mão dos recursos terapêuticos para levar o alimento necessário à matéria que se consome e se tortura, o espiritismo se ampara numa terapêutica muito mais sublime que é a terapêutica da esperança em dias melhores, do perdão que eleva, da certeza que consola, e da resignação que ampara e fortalece o espírito na trajetória que é obrigado a palmilhar". (FERREIRA, Inácio dr., Espiritismo e Medicina, pág. 28).
No futuro, na era da medicina espiritualista e espiritualizada, o lema será o mesmo de Miguel Couto, o inolvidável mestre: "Clinicar é sinônimo de sofrer. Onde estiver o homem padecendo, está ao lado a medicina aliviando, consolando, mitigando... e padecendo, como mãe carinhosa".
OBSESSÃO
“Cobrança que bate às portas da alma, é um processo bilateral. Faz-se presente porque existe de um lado o cobrador, sequioso de vingança, sentindo-se ferido e injustiçado, e de outro o devedor, trazendo impressas no seu perispírito as matrizes da ; culpa, do remorso ou do ódio que não se extinguiu”.
(SCHUBERT, Sueli Caldas. Obsessão, Desobsessão, pág. 31).
TRATAMENTO DAS AUTO-OBSESSÕES
Aqui, todo o arsenal terapêutico é dirigido diretamente ao paciente, que é autor dos seus desequilíbrios. Ao lado das medidas de ordem clínica, visando o equilíbrio orgânico, são empregados, segundo as características racionais e sintomatológicas dos pacientes:
Quimioterapia: uso de sedativos, antidepressivos e medicamentos de ação central.
Eletrochoques: muito raramente, nos casos de difícil remissão (estados catatônicos) ou de extrema resistência à quimioterapia.
Psicoterapia: segundo as técnicas usuais, de escolha do terapeuta, aliada sempre que possível à noção de reencarnação.
Psicanálise profunda: calcada na reencarnação.
Hipnose médica: com regressão da memória, se possível, às vidas anteriores.
Fluidoterapia: passes magnéticos e água fluidificada.
Prece: como elemento regularizador das vibrações perispíriticas, ao mesmo tempo que cria um ambiente harmônico em tomo do paciente.
Terapia ocupacional: manter o paciente ocupado em um trabalho que o atraia, de modo a mantê-lo afastado de seus pensamentos doentios.
Ludoterapia: divertimentos sadios e cultivo de ginástica, natação e outros tipos de exercício.
Musicoterapia: o senso musical talvez seja o último que o doente mental perde e deve ser cultivado com muito carinho (audições musicais, bandas nas clínicas ou hospitais, deixar que o paciente toque o instrumento que lhe agrade e incentivá-lo nesse sentido).
Reeducação: através de contatos freqüentes com assistentes sociais, palestras educativas, convivência com outras pessoas, evangelização etc.
Medidas gerais: incentivar o paciente a imprimir uma direção construtiva ao seu pensamento, para isto empregando a sua força de vontade, que aos poucos vai se desenvolvendo. Dar-lhe noções de caridade, no seu verdadeiro sentido evangélico, isto é, ser benevolente, indulgente para com as imperfeições dos outros e perdoar as ofensas que lhe forem feitas, principalmente no ambiente familiar. Orientar a família do paciente, no sentido de lhe dar toda a cobertura possível, dentro das suas reais necessidades. Aconselhar o Culto do Evangelho no Lar, que servirá de força unificadora e harmonizadora.
TRATAMENTO DAS HETERO-OBSESSÕES
Ao lado de toda a terapia usada nas auto-obsessões, empregar a desobsessão, que é a doutrinação da entidade ou entidades espirituais que estão atuando como obsessoras.
Extremamente delicado, o processo desobsessivo exige a formação de grupos especializados, com médiuns bem desenvolvidos e moralizados e dirigentes capacitados. Uma equipe de desobsessão, além do doutrinador culto e moralizado, necessita de médiuns psicofônicos, videntes e passistas e a cobertura de assistentes doadores de fluidos, não devendo o número total ultrapassar 15 pessoas. Há também a reunião privativa, que só excepcionalmente receberá visitantes. Os pacientes obsedados estarão ausentes da reunião e a ela estarão presentes somente por ordem do plano espiritual.
O grupo ideal é aquele constituído de pessoas amigas, realmente fraternas e que exerçam as suas atribuições com amor e desvelo. Para os componentes do grupo, e principalmente para o doutrinador, é recomendado o estudo da obra de Hermínio C. Miranda, Diálogo com as Sombras.
Para que haja tratamento eficiente, são exigidas condições por parte do paciente, da família do paciente e do dirigente.
Por parte do paciente, é preciso que ele deseje a cura e siga o tratamento. As terapias de apoio são dirigidas no sentido de despertá-lo para as suas potencialidades. É preciso ter paciência e aguardar os resultados do tratamento, que via de regra é longo.
Por parte da família, faz-se necessário compreender os problemas do paciente, colaborar com o terapêuta, fazer executar os métodos indicados e aguardar com paciência os resultados. Não esquecer que a harmonização no lar é fator de suma importância.
Por parte do dirigente, são necessários conhecimentos técnicos, elevação moral e as seguintes qualidades imprescindíveis:
- Imprimir direção sadia ao que faz, ao que pensa e ao que realiza.
- Possuir elevação moral e de sentimentos, sabendo dominar as suas emoções.
- Ver o paciente como companheiro.
- Ter o desejo real de ajudar o paciente a resolver os seus problemas.
- Envolver o paciente em seus fluidos.
- Aprimorar o senso intuitivo e usá-lo com discernimento.
- Não se descartar do paciente.
No grupo de desobsessão, além dos médiuns, do dirigente e dos doadores de fluidos, devemos acrescentar os orientadores espirituais, os eventuais manifestantes e o obsessor ou obsessores. As reuniões são sempre precedidas de leitura evangélica e de prece. Todos os assistentes devem levar vida sadia, tanto moral como fisicamente. Abster-se de carne, álcool, fumo, pelo menos no dia das reuniões. Usar a máxima vigilância no seu comportamento, para que não se vejam envolvidos nas mesmas tramas obsessivas dos pacientes obsedados.
Iniciada a reunião, com absoluto silêncio e concentração de todos os assistentes, começa a manifestação das entidades espirituais, primeiro o dirigente espiritual encarregado do trabalho, que orienta, o seguimento da reunião e dá os informes e conselhos necessários. Manifestando-se o obsessor, o dirigente encarnado trava diálogo com ele, doutrinando-o no sentido da compreensão dos seus deveres como filho de Deus e como espírito imortal sujeito às leis da evolução. Para que haja boa doutrinação, o dirigente precisa:
- Ter profundo conhecimento da Doutrina Espírita.
- Ter facilidade na condução da conversa, não demonstrando parcialidade no modo de encarar o obsessor e o obsedado.
- Deixar o espírito falar sempre que possível.
- Não perder a paciência
- Usar compreensão e amor.
- Conduzir a doutrinação de acordo com as características do obsessor, evitando do princípio a pregação moral.
- Fazer-se amigo do obsessor, através da compreensão dos seus problemas.
- Mostrar que, se ele é vítima, também é agressor.
- Costuma ser de excelente resultado a reconstituição do passado do obsessor, desde que feito com muita delicadeza e oportunidade.
- No decurso da doutrinação, as vezes se faz necessário dar passe reconfortador na entidade manifestante, o que é feito estendendo-se as mãos sobre a cabeça do médium.
- A prece é de suma importância no decorrer da sessão e os assistentes deverão permanecer no que se pode chamar de estado de prece.
Doutrinado o obsessor, que reconheceu o seu erro e se propôs a mudar de procedimento, resta ainda o obsedado, que carrega dentro de si todo um passado de delinqüência e de desvios m orais. Ele é então submetido aos tratamentos indicados nas auto-obsessões.
Quando o paciente tem ardente desejo de modificação interior, para isso empregando todos os esforços, ele próprio vence a sua obsessor.
A própria reencarnação já é processo de desobsessão, dada a barreira vibratória existente entre os dois mundos, o material (terreno) e o espiritual e também - a barreira corpórea oposta ação dos Espíritos.
Para saber mais:
O Livros dos Médiuns - Allan Kardec
Dramas da Obsessão - Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 01, páginas 16-21)