MAPAS DE VIDAS PASSADAS

A psicóloga e astróloga Maitha Pottenger conversou com a Sexto Sentido a respeito de seu trabalho referente a astrologia de vidas passadas. Ela entende que, olhando para o passado, é possível escolher melhor nosso futuro.

Alex Alprim e Gilberto Schoereder
Formada em psicologia pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, Maritha Pottenger vem pesquisando astrologia há mais de vinte anos, realizando workshops e palestras em todo o mundo. Autora de quinze livros, em 2003 publicou sua primeira obra no Brasil, Astrologia e Vidas Passadas (Editora Nova Era).

Ela entende que o tema pode ser importante para as pessoas, uma vez que “uma ligação de vida passada pode permitir uma dessensibilização em relação a medos e fobias, ao perdão de padrões familiares antigos e repetitivos, a romper com uma tendência à pobreza, disfunção e dor, a deixar as discussões conjugais para trás e concentrar-se no agora, a compreender as raízes dos bloqueios sexuais e trabalhar para a realização, a compreender a depressão, a culpa e a violência das vidas anteriores e prosseguir”.

Assim, para poder “olhar para trás”, para vidas anteriores, existem como a hipnose, técnicas de regressão, ou mesmo o acesso a lembranças de outras vidas por meio dos sonhos, visões ou outras formas de acesso ao subconsciente. E a astrologia é uma dessas ferramentas. “Certas tradições astrológicas”, explica Pottenger, “associam partes do horóscopo com o passado, inclusive vidas passadas”.

Mas ela complementa sua observação dizendo que, naturalmente, isto é especulação. Como acontece com a reencarnação, nada pode ser “comprovado”. “Todas as teorias e abordagens são, contudo, especulativas. Como não existe uma maneira de comprovar a reencarnação num padrão científico, acreditar (ou desacreditar) passa a ser uma questão de fé e de suposições”.

O material de seu livro, ela explica, foi escrito a partir da suposição de que a reencarnação acontece, e as frases utilizadas no livro pressupõem que a pessoa teve vidas passadas.



É possível, por meio do mapa astral, definir quem a pessoa foi numa encarnação ou encarnações anteriores? Como isso é feito e qual o grau de precisão?

Ao, discutirmos vidas passadas, temos de lembrar que é tudo teórico. Não há um modo científico de demonstrar que houve vidas passadas. Não importa se usamos a hipnose, técnicas de regressão, mapa astrológico, intuição ou outros instrumentos, não podemos “provar” que exista reencarnação ou que crenças especificamente sobre uma certa vida passada sejam verdadeiras. Acredito que um mapa astrológico possa oferecer pistas sobre o que um indivíduo enfrentou em uma vida passada, mostrando os tipos de existência que ele pode ter tido. Quanto a detalhes específicos ou um nome particular, não acredito que possam ser dados por um mapa.



Qual a utilidade prática disso, tanto do ponto de vista astrológico quanto psicológico? É importante saber a respeito de existências passadas?

A aplicação prática é responder ao velho adágio: quem não conhece sua história está condenado a repeti-la. Muitas pessoas acabam presas a padrões compulsivos e negativos de hábitos. Reconhecer as antigas raízes é, freqüentemente, o primeiro passo para quebrar e mudar esses velhos padrões. Certas fobias, por exemplo, podem estar ligadas a eventos de vidas passadas.

Além disso, ao olharmos para trás, podemos lembrar as pessoas de seus talentos e habilidades que já existem dentro delas, e encorajá-las a dar continuidade a essas habilidades e a manifestar os talentos. Relacionamentos de vidas passadas podem ajudar as pessoas a entender (e a perdoar e superar) problemas difíceis de relacionamento.

Por outro lado, muita gente passa muito bem e não sabe qualquer coisa de suas vidas passadas, e nem precisa saber.



Você diz que é possível escolher ou determinaria futuro a partir da resolução de questões cármicas. Mas o objetivo do carma não é exatamente a pessoa resolver estas questões por si mesma, em sua atual encarnação? Não é exatamente por isso que as religiões reencarnacionistas insistem no ponto de que as pessoas não se lembram de suas encarnações anteriores?

Quando eu falo em resolver o passado para ter um futuro melhor, eu não digo que se possa escolher o futuro de alguém. Se nós estamos na quinta série da escola, não “escolhemos” entre repetir a quarta, passar para a sexta, pular para o ensino médio, etc. Uma autoridade além de nós toma essa decisão. O carma é continuamente criado e resolvido. Basicamente, carma significa conseqüência; conseqüências de ações sábias e do desenvolvimento de talentos e habilidades, que nós levamos à frente por mais de uma vida.

A conseqüência de padrões negativos de hábitos e de escolhas de relacionamento é dor, que podemos ter de encarar por mais de uma vida. Se nós mudamos (ou resolvemos) certos padrões cármicos, teremos um futuro diferente daquele que teríamos.

Algumas pessoas recordam encarnações anteriores. Na minha opinião, a evidência mais convincente está no trabalho de Ian Stephenson e colegas, que examina recordações infantis e verifica seu grau de acerto (Stephenson também encontrou indicações de que, às vezes, traumas de vidas passadas aparecem como marcas no corpo da próxima encarnação).



Muitos astrólogos analisam as questões cármicas através dos planetas chamados transpessoais (Netuno, Urano o Plutão) e através de alguns aspectos relacionados aos nódulos lunares. Em seu livro Astrologia e Vidas Passadas (Past Lives Future Cboices), você observa todos os planetas do mapa, principalmente Saturno. Como você chegou a essa conclusão?

Eu conduzi seminários por vários anos (com centenas de pessoas) em que exploramos as possibilidades de vidas passadas em cima de mapas astrais. Algumas pessoas tinham lembranças. Algumas tinham feito regressão (sob hipnose, por exemplo). Algumas pessoas tinham tido lampejos de uma época ou acontecimento em particular, etc. Meu trabalho está baseado nessa experiência.

Os planetas “transpessoais”, em termos de posição no zodíaco e aspectos, são totalmente vinculados à idade da pessoa e, portanto, não trazem revelações muito pessoais (a posição das casas é mais pessoal). As tradições astrológicas sobre a 12ª casa se mostraram muito consistentes em minha experiência.


Você chegou a estabelecer alguma relação entre os estudos e pesquisas científicas sobre reencarnação e o seu próprio trabalho de astrologia voltada para vidas passadas?

Como já disse, explorei muitas tradições astrológicas sobre vidas passadas (como a importância dos nódulos e das casas astrológicas ligadas ao elemento água) em meus seminários. Incluí no livro as tradições e interpretações que foram respaldadas por pessoas que assistiram aos seminários sobre vidas passadas e astrologia.



Qual tem sido o resultado dos mapas que você tem elaborado para seus clientes? Existem casos em que eles não foram muito favoráveis para a vida da pessoa?

Saber de vidas passadas pode ser muito doloroso. Essa é uma das razões pelas quais a psique normalmente não as relembra. Com certas configurações, eu recomendo que o cliente seja extremamente cuidadoso nas suas explorações; ele pode abrir uma caixa de Pandora e se arrepender imediatamente. Por exemplo, um cliente que se lembra de uma vida passada na qual ele foi torturado até à morte pode não apreciar a experiência.

Pessoalmente, não uso hipnose ou regressões de vidas passadas. Acredito que trabalhar com o mapa astrológico permite ao cliente um maior grau de distanciamento. Ele pode pensar e falar sobre o que poderia ter acontecido, sobre o que poderia ter sido uma vida passada, mas ele não revive nem sente novamente as experiências. Assim, eles não se arriscam a muita dor e sofrimento. Portanto, eu esclareço a alguns clientes que hipnose ou regressão podem não ser aconselháveis nos seus casos.



Em seus estudos, quais os principais problemas cármicos você tem encontrado?

Muitas pessoas nos campos metafísicos têm padrões de vida passada de idealismo extremo ou de sacrifício por uma causa – por exemplo, o médico dedicado que, por estar ocupado demais cuidando dos pacientes, não cuida de si e morre. Ou a mulher que ama irrestritamente e é renegada ou mesmo morta por um parceiro, entre outros.

O equilíbrio entre cuidar apenas de si e seguir um caminho espiritual (onde se é parte de algo maior) nem sempre é fácil. Muitas pessoas nesse campo vão longe demais ao se desprenderem de necessidades pessoais, e acabam sendo prejudicadas pelo mundo material ou por pessoas menos espirituais ao redor.



Como a astrologia cármica vê a situação do planeta?

Quanto ao carma, acredito que o principal problema que nosso planeta encara é o desequilíbrio dos recursos. Nós todos sabemos que somos um único. Pessoas começam a reconhecer que o bater de asas de uma borboleta na América do Su1 pode afetar o clima na América do Norte. A doença agora é um problema global, com tantos transportes de massa. Porém, muitos ainda se recusam a enxergar as interligações.

Nosso atual governo está aprofundando o fosso que separa os ricos e os pobres, tanto nos EUA como no mundo. O governo também ignora solenemente o grande impacto destrutivo que as empresas e o padrão de consumo dos EUA impingiram ao ambiente (e continuam impingindo.) Por enquanto, estamos em um caminho bastante negativo. Espero que possamos reverter a tendência.

Em um nível individual, nós podemos ajudar – praticando amor, tolerância e fraternidade, e tentando ajudar nossos vizinhos. Se seguirmos o exemplo de Cristo (“ama ao próximo como a ti mesmo”), compartilharemos realmente o mundo. Começaremos a reconhecer que o que fere uma pessoa fere, de verdade, todos nós.



Você acha que pode existir uma motivação egoísta na busca das pessoas em conhecer suas encarnações anteriores? Existem inúmeros casos de pessoas que relatam terem sido personalidades importantes em vidas passadas, e raramente falam que foram ladrões ou prostitutas. Como você encara esse aspecto da questão?

Acredito que muitas pessoas têm motivações relativamente egoístas, e gostariam de ser importantes. Se, na existência presente, elas não conseguem admiração ou atenção, elas podem procurar no passado uma existência de riqueza, glamour e fama, que corresponda à necessidade que elas têm de serem vistas e notadas.

Gente demais quer acreditar que foi Cleópatra, César, Carlos Magno, Simon Bolívar ou alguém famoso. Não é possível que nós todos (ou mesmo a maioria) já tenhamos sido pessoas tão importantes. A esmagadora maioria da humanidade teve vidas bastante comuns e freqüentemente sofridas no passado. Este é outro motivo para nós normalmente não nos lembrarmos dessas vidas; além do mais, todas essas recordações só deixariam esta existência presente mais penosa.

Freqüentemente, eu provoco os clientes dizendo que – embora eu tenha encontrado tanta gente que acredita que já foi essa ou aquela pessoa famosa – eu mesma tenho certeza de que já vivi várias vidas como uma camponesa gorda, que comia demais e que, as vezes, era punida por não trabalhar bastante (eu ainda gosto de comer muito e evito trabalho físico).

(Extraído da Revista Sexto Sentido 45, páginas 8-12)

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